segunda-feira, 14 de junho de 2010

(2010/413) Sobre o "eixo teológico" - ainda


1. Ra(re)tificando o Parecer CNE/CES n. 118/2009, o Parecer CNE/CES n. 051/2010 incluiu, entre seis eixos anteriores, um "eixo teológico" como um dos agora sete eixos que devem nortear a elaboração de uma grade de Teologia - no MEC. Escrevi sobre isso (aqui e aqui). Quando escrevi, avisei, estava tomado de mau humor. Ainda estou, mas é como rescaldo de incêndio.

2. Gostaria de explicar por que acho um equívoco a inclusão do "eixo teológico" no Parecer. Primeiro, deixe-me dizer que não me refiro aqui ao ato político de sua inclusão. Deve haver e há razões mil para que lá ele seja alocado. Que pressões! Foi por meio de ação política - tão-somente política - que a Teologia entrou no MEC - não será por outro meio que se manterá aí. Frase de efeito, logo se vê...

3. Refiro-me, contudo, ao uso pretensamente "técnico" do termo "eixo teológico". Porque, na prática, a Teologia não é "ciência" - em nenhum sentido com que se pretenda manejar a palavra "ciência". Teologia é racionalização - não racionalidade - de mito, seja a cristã, seja qualquer outra. E é assim porque ela é muito, muito antiga. Na boca de Platão e Aristóteles, e antes deles, Teologia e Filosofia eram a mesma coisa. Filosofia foi separando-se, fazendo-se cada vez menos "teológica", vale dizer, mitológica, até a sua completa emancipação. Teologia ficou (como) Mito. Nunca saiu disso. Mesmo - principalmente! - no Cristianismo...

4. Não era de se esperar algo muito diferente. A "racionalidade" não tem trezentos anos (refiro-me à "razão emancipada", bem se vê) - a Teologia, dois mil e quinhentos. A Teologia crê falar de e a partir de Deus - de a a partir dos deuses -, de modo que juntam-se, aí, a fome e a vontade de comer. Levará tempo uma eventual transformação da Teologia em - de verdade - ciência humana. De modo que, hoje, constituindo mito e confissão, a sua inclusão ao lado dos eixos norteadores, esses, sim, científico-humanistas, subverte a racionalidade de um modo que dificilmente se corrigirá. Como, em nome de Deus, um eixo científico caminhará ao lado do eixo teológico? Nunca... Salvo se, das duas uma, ou a Ciência se converter... ou a Teologia se perder...

5. Seja como for, lá vai ela, a fila dos teólogos, satisfeita, com seu eixo incluído. No papel, era quanto lhes bastava. Mas cá tem um teólogo desgostoso. Que se registre em ata, por favor.


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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