1. Há vantagens na dor. Sem ela, morreríamos antes de nos darmos conta de que, por exemplo, uma hemorragia qualquer nos pressionava o cérebro. A dor é um alerta. Muito necessária, ajuda-nos a correr, a fugir, a defender-nos, a lutar pela vida...
2. Uma inferência da dor é que a realidade independe de nós. Não digo nosso "mundo" - "nosso mundo", isto é, a compreensão que temos da vida, isso sim, é meramente subjetivo. Mas o "real", a carne da Tabela Periódica, ah, essa, não, essa é absolutamente independente de nós. Daí que eu considero essa história de "virada lingüística" do século XX um grande embuste filosófico, a grande fuga coletiva da racionalidade ilustrada, o mito da maioridade do Homo sapiens, o grande navio em que as ratazanas de refugiam...
3. Tenho a impressão de que o século XIX foi demais para a espécie humana, cristianizada, ocidentalizada. Ao mesmo tempo em que descobriu os mitos dos outros, dos povos distantes, descobriu que seu maior valor, sua maior verdade, era pura mitologia. Doeu, não foi? Remédio? Fingir que tudo é linguagem, que tudo é ilusão, que tudo não passa de jogo de palavras... Não sei se são covardes ou maliciosos. Em, todo caso, prefiro proteger-me de seus discursos dissimulados. O princípio de prazer é bom, mas o de realidade é tão necesário quanto, e aquele, sem esse, é pura neurose. Sim, a virada lingüística é um sintoma, apenas...
4. Vou-me rindo, aqui, sarcasticamente, do bando de ratos em fuga... enquanto os vermes esperam, sofregamente, pela minha carne. Lá, a Tabela Periódica, finalmente, vence.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
2. Uma inferência da dor é que a realidade independe de nós. Não digo nosso "mundo" - "nosso mundo", isto é, a compreensão que temos da vida, isso sim, é meramente subjetivo. Mas o "real", a carne da Tabela Periódica, ah, essa, não, essa é absolutamente independente de nós. Daí que eu considero essa história de "virada lingüística" do século XX um grande embuste filosófico, a grande fuga coletiva da racionalidade ilustrada, o mito da maioridade do Homo sapiens, o grande navio em que as ratazanas de refugiam...
3. Tenho a impressão de que o século XIX foi demais para a espécie humana, cristianizada, ocidentalizada. Ao mesmo tempo em que descobriu os mitos dos outros, dos povos distantes, descobriu que seu maior valor, sua maior verdade, era pura mitologia. Doeu, não foi? Remédio? Fingir que tudo é linguagem, que tudo é ilusão, que tudo não passa de jogo de palavras... Não sei se são covardes ou maliciosos. Em, todo caso, prefiro proteger-me de seus discursos dissimulados. O princípio de prazer é bom, mas o de realidade é tão necesário quanto, e aquele, sem esse, é pura neurose. Sim, a virada lingüística é um sintoma, apenas...
4. Vou-me rindo, aqui, sarcasticamente, do bando de ratos em fuga... enquanto os vermes esperam, sofregamente, pela minha carne. Lá, a Tabela Periódica, finalmente, vence.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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