1. Éramos caçadores-coletores. Certo - você tem que achar a caça, encontrar aquelas amoreiras, os pés de caju... Se não tem caça, tem fome. Isso não é bom: você com fome, a família com fome... Mas, grosso modo, você está caçando e... fazendo esforço físico, que, por outro lado, diminui a ansiedade. Talvez a família tenha ficado na aldeia, e ela, eventualmente, esteja estressada, com a espera de horas, às vezes, dias... Viver é estressar-se, mas não se pode dizer que a caça e a coleta sejam os campeões do processo.
2. Para mim, foi a agricultura. É porque você planta, faz uma força danada e, depois, espera. Veja hoje na colheita da maçã no sul do país. Só agora, na época da colheita, é que se dá emprego aos 15.000 operários. Depois de colhida e recolhida a última maçã, rua! Bem ético, não? Mas voltemos ao passado - lá nos escondemos das hipocrisias civilizadas do espírito de lucro...
3. Se hoje se demite legalmente durante as safras, nas culturas não-capitalistas primitivas, as pessoas simplesmente... esperavam. Logo, descobriram que dependiam da chuva. Logo, vieram as pragas. Logo, sofisticou-se o conhecimento, a questão das Luas, logo, do tempo. Inventou-se o calendário. Refinou-se o controle do tempo. Passou-se a saber que estamos aos 18 de minguante do mês quatro, e faltariam, sei lá, doze Luas para a colheita. E espera, espera, espera.
4. É essas espera, contando o tempo, a mãe do estresse - a preocupação. Segundo a segundo ela acaba com a vida da gente. Milênios depois, diz-se que um filho de carpinteiro mais parecido com um agricultor usou os lírios do campo para falar de tranqüilidade e confiança... Mas ele só podia falar mesmo dos lírios. Porque, se falasse, por exemplo, dos cereais e dos vegetais cultivados, ah, logo, logo teria ouvido um sem mundo de histórias de quebra de safra. Logicamente que Jesus daria um jeito de contornar o confronto - até porque os editores dos Evangelhos teriam dias e dias para pensar numa boa saída a escrever. Mas só dá mesmo pra usar as flores do campo como exemplo de fé. Na agricultura, é trabalho, espera, trabalho, espera, e nem sempre o salmo 126 é boa descrição do processo angustiante dessa longa espera sazonal... Quero dizer, quanto a trazer os feixes...
5. É. A agricultura ensinou-nos a longa espera dos dias, dissimulação bovina da angústia do tempo. Hoje, nas cidades, as colheitas são de hora em hora. O estresse estoura na cara da gente, porque o Tempo, hoje, chama-se "resultado". Cada um de nós é um dos 15.000 coletores de maçã do sul: sempre há, atrás de nós, a longa fila de espera...
5. É. A agricultura ensinou-nos a longa espera dos dias, dissimulação bovina da angústia do tempo. Hoje, nas cidades, as colheitas são de hora em hora. O estresse estoura na cara da gente, porque o Tempo, hoje, chama-se "resultado". Cada um de nós é um dos 15.000 coletores de maçã do sul: sempre há, atrás de nós, a longa fila de espera...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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