1. Que temo em chorar agora?, depois que todos os dias maus se erodiram? Que temo da vulnerabilidade da fera humana e máscula criatura? Que temo? Quê? Desde o ventre, nadei em sal, recolhendo grão e grão, na cadência do pulso cardíaco do útero - e para quê? Para quê?, eu te digo - para o lançar pedra a pedra do alto da janela úmida. Que ensinamento há em que te esperam uns tantos dias a pôr-te sal na boca, à guisa do tempero cotidiano? É que a vida tem por pedágio colheres de sal vertidas líquidas - e tua mãe já o sabia desde há muito - é sal o preço da vida! E por que suas tanto? É porque te foi esperada uma vida ainda mais dura, e tanto sal lhe deram, que nem todas as tuas lágrimas vertidas até hoje puderam vertê-lo, e ele explode pela pele. Portanto, lembra-te - por mais que sejam as gotas de sal que teus olhos vertem, ainda tens muitas e muitas salinas no mar da tua alma.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
Um comentário:
Embora não seja fã do Fábio Júnior, o texto é, salgadamente, belo e verdadeiro.
Será essa, porventura, a justificativa para a nossa sede de querer ir sempre além? De transcender? De autosuperação?
Vertemos lágrimas, na tentativa inconsciente de desfazimento das pedras que vão dolorindo as regiões abissais do ser?
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