quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

(2009/613) O morto e os "vivos"


1. Extraio do Azenha, que extraiu do Diário Gauche, de onde cito:

A escolinha do Serjão

Sérgio Motta, o Serjão, ex-ministro das Comunicações de FHC (de janeiro de 1995 até o dia de sua morte, 19 de abril de 1998), era um sujeito extremamente pragmático e direto.

É dele a avaliação de que o tucanato inaugurava em 1995, com o professor Cardoso, “duas décadas de hegemonia e poder” no Brasil. Eles quiseram fundar um novo “getulismo com sinal trocado”, sem Getúlio, com FHC, e com a famigerada inserção subalterna do Brasil na onda neoliberal de Reagan-Thachter. Exatamente o contrário do que Getúlio Vargas propugnou e construiu.

Serjão afirmava que, para isso acontecer a pleno, era preciso haver um total domínio da mídia, não apenas dos empresários donos de jornais, rádios e TV’s, mas sobretudo dos jornalistas, dos que militavam e escreviam artigos e matérias de qualquer natureza no dia-a-dia das redações. Questionado sobre como era possível arregimentar tantos apoios naquilo que se constituiria uma verdadeira “revolução cultural tucana nas redações”, mais uma vez aflorou o hiperrealismo e a realpolitik do homem que foi o braço direito e (grande) parte do cérebro do professor Cardoso, Serjão virou-se para o pálido interlocutor e disse:

- Jornalista come na mão, se farto for o grão!

Teorias e papers acadêmicos sobre a invencível tendência direitista e antidemocrática da mídia mundial da atualidade (por que não é um fenômeno exclusivo do Brasil, ao contrário) precisam, pois, levar em conta esse dado comezinho e quase vagabundo da realidade, qual seja, o aspecto subjetivo da canalhice e da sordidez humana na montagem do mito moderno da imprensa livre.

Serjão e seus epígonos não ficaram duas décadas no poder – felizmente – masa superestrutura midiática desse projeto de getulismo com sinal trocado ainda está intacta. E com altas taxas de remuneração ao seu público interno.

Hoje, ser um jornalista de direita dá muito dinheiro, e é um business como qualquer outro.

Bem, sim, mas não apenas "jornalista". É bastante doméstica a cultura. E, se não formos fortes o bastante, vigilantes o bastante - tolos o bastante - também podemos cair de cheio na indecência...


OSVALDO LUIZ RIBEIRO



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