quarta-feira, 4 de novembro de 2009

(2009/558) Morreu de parto


1. Na maternidade Nossa Senhora da Teologia, morreu de parto a Transdisciplinaridade. Apostava-se que tal se daria, e logo, mas, assim?, de parto? Bem, é verdade que, há séculos, Tomás de Aquino castrou Aristóteles, emasculou a fera grega, pai, decerto de todas as revoluções ocidentais, da Renascença à Reforma, e do Empirismo inglês ao Iluminismo francês, fazendo-o miar como um gatinho castrado. Também é certo que se repete à exaustão, ao vômito, que a Teologia daquele senhor se fez aristotélica... mas, cá pergunto, na terra de quem?, em que planeta?, em que mundo dos sonhos e quimeras? Na Terra é que não foi. Por que usa "termos" aristotélicos, é aristotélica a teologia dele?

2. O mesmo acontece com a Teologia e a Transdisciplinaridade. Das duas uma - ou a Teologia (ou os teólogos), não entendem nada de Transdisciplinaridade - e bem fariam em ficar quietos, então, se não vão se dar ao trabalho de pesquisar [mas os teólogos são bons pesquisadores, conquanto não tirem daí boas conseqüências...] - ou, o que é pior, sim, tão pior quanto pior é a má fé do que a ignorância, sabem, sim, mas está em curso uma emasculação, de novo, do elemento subversivo...

3. A Transdisciplinaridade exige que uma disciplina rasgue a outra. Ora, a Teologia jamais permite - nunca! - que nenhuma disciplina a rasgue. A Teologia pôs - fez que pôs, fingiu que pôs - Antropologia, Sociologia, Psicologia e todas as demais ciências moles em sua "grade", mas, insisto, nunca lhes deu conseqüência - ao contrário, controla-as, como a Igreja a seus fiés. A Teologia e tudo o que ela diz não possui nenhuma compatibilidade com nenhuma das Ciências Humanas. O que ela diz e ensina é gnose, se não exotérica, esotérica, contudo, certamente impositiva, privilegiada, solipsista. Mesmo essas quase espectrais que andam a assombrar os umbrais da consciência teológica dita pós-moderna (o que importa para a Teologia é assassinar o moderno, seja ela medieval, seja ela pós-moderna, porque o diabo é a crítica!, e a alma teológica é exorcista desde o Novo Testamento...).

4. E eu sou obrigado a ver a minha profissão, a Teologia, envengonhando-se em público, escrevendo sobre Transdisciplinaridade, o que se traduz numa impropriedade insuportável. Ver a massa evangélica tornar-se cada vez mais obscurantista já me causa constrangimentos... Assistir à Teologia participar de joguetes político-retóricos, ai, dói tanto quanto. Primeiro, Teologia, converta-se, honestamente, verdadeiramente, sinceramente, às Ciências Humanas. Depois, caso se converta, aí, sim, venha falar em (e escrever sobre) Trasdisciplinaridade. Antes, é vergonhoso. Antes, chega a ser cínico. Além de cômico...


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

2 comentários:

Cristianismo Livre disse...

e isso fica tão claro nas apresentações de monografia dos missiólogos...mas ainda há tempo para reverter o caminho do obscurantismo na teologia da colina? Ou ainda seremos os bastardos do MEC?

Será teologia transdisciplinar e supradenominacional possível?

Na espectativa de quando chegar minha hora...
Thiago Barbosa

Peroratio disse...

Não me referi a missiólogos, mas àqueles que se consideram - porque o são - teólogos. De formação. De estrito senso. Confesso uma condescendência em relação aos missionários - principalmente quanto a esses que, eventualmente, você se refere. Vejo-os como pessoas em formação, habitantes de um mundo que, um dia, ruirá. Mas confesso, ainda, uma incontida impaciência, toda uma absoluta intolerância em relação a teólogos de cátedra e livro, que se arvoram a escrever coisas das quais não fica uma de pé, se sopra, aí, o vento crítico. E não é por outra razão que, das duas uma: ou calam a crítica, autocraticamente, ou a dissolvem, pós-modernamente - para poderem dizer, que é tudo quanto querem... Talvez missionários andem nus, confessos. Teólogos há por aí que se disfarçam em retóricas novas, mas a carne é a mesma de sempre.

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