quarta-feira, 4 de novembro de 2009

(2009/559) Ronaldo Cavalcante invade a área...



1. Há algum tempo, escrevi o post (2009/508) Linguagem agonística e paixão, uma reação a meu amigo Ronaldo Cavalcante, reação a um e-mail que ele me escrevera, quase como a dizer assim: bem-feito, não quer ficar dando estocada em todo mundo, agora agüenta o tranco e pára de choramingar a solidão... Fazer o quê? Ele estava certo, um tanto "vingativo" de eu ter "estocado" um amigo comum - quanto a um outro ele dissera até que era, também, bem-feito, mas, "fogo amigo", ele dizia, era gol contra.

2. Interessante. Francos, os dois, dissemos coisas diretas, e nem por um segundo, nos ofendemos, nos mal-dizemos, nos mal-queremos. Vamos assim começando a arriscar uma consideração de amizade. Meio "ignorantão", ele, mandando-me uma no peito, mas, fazer o quê, não provoco? O coice é melhor do que o meneio de cabeça... Ou seja: o "passa fora" é melhor do que o desprezo...

3. Agora, meio lerdo, ele (alega muito trabalho - tá...), responde-me de modo "magistral". Diz-se coisas muito interessantes. Peço para postar. Ele autoriza, mas pede para trocar uma palavra: uma acusação de diarréia verbal para incontinência verbal. Troco, não. Vai assim. Não me ofendi, conquanto a imagem não seja nada agradável, nem o produto imaginado...

4. Com vocês, Ronaldo Cavalcante, em resposta ao post mencionado:

Oi Osvaldo,

Estou muito sem tempo pra responder dignamente aos seus alunos. Verei o que posso fazer. Estou estrangulado de tempo, companheiro, com muita coisa atrasada.

Acabo de entrar no seu site: Vc. disse que ia postar parte da nossa conversa e meus elogios e postou mesmo hein! De ouviroevento e peroratio, gosto não pelo formato, pela moldura, mas pelas cores, pela ousadia, pelo turbilhão de ideias, pelo iconoclasmo, iconoclasmo que, aliás, poderia ser aplicado igualmente (na mesma intensidade) ao século XIX, aí sim o epíteto de agônico-agonístico estaria perfeito, do contrário, o que vc. chama de "argumento" não passa de retórica também. Quer dizer, é uma agonia que vc. sabe lá no fundo onde vai dar, como aquele "salto no escuro" kierkegaardiano, que pela consciência cristã existencial que ele tinha, desfrutava de uma certeza de que cairia nos braços seguros de Deus. Quer dizer, a agonia durava dois segundos desesperantes, mas a apoteose do abraço divino valia o "risco". No final, vc. sabe exatamente como a história terminará Osvaldo, num é verdade?!? Lembra de William de Baskerville (Ockham), do Nome da Rosa? Ele investigava mas na verdade conhecia o desfecho...

A analogia com o futebol é perfeita, poderias postar (minha sugestão) a pérola buarqueana "O Futebol" que entre outras coisas diz:


"Parafusar algum joão
Na lateral
Não
Quando é fatal
Para avisar a finta enfim
Quando não é
Sim
No contrapé
Para avançar na vaga geometria
O corredor
Na paralela do impossível, minha nega
No sentimento diagonal
Do homem-gol
Rasgando o chão
E costurando a linha"

De qualquer maneira, Pelé, Romario e Zico não te fazem justiça, foram sempre muito "certinhos", até mesmo o Romario. Garrincha te caberia melhor -"parafusar algum joão na lateral" essa sim se identifica contigo e sua "pena impiedosa" - apesar de não desrespeitosa, não pérfida, não dissimulada, fraterna. A propósito, o parágrafo 7 é uma total auto-louvação - que se utiliza de baioneta - palavras, Osvaldo, palavras desnecessárias, a meu ver, antipático até - como um sermão repetitivo. Seu mérito maior é sua perspicácia desconcertante. O resto é o resíduo escatológico que produzimos e que a Rita Lee (nossa eterna rainha) tão bem traduziu na música que vc. postou magistralmente aí. De fato, essa música caberia muito bem dentro da diarréia verbal do parágrafo 7.

Já me sinto um grande amigo seu, ainda que virtual e anseio (pero no mucho) nosso encontro face to face (por favor não vá de baioneta!), estou curioso pra saber se aguentaremos um round de 10 minutos que seja hahahahahaha. Me preocupou essa coisa de sonda uretral no Jimmy, to por fora disso!!!!

Saudações desde a paulicéia cada vez mais desvairada

Ronaldo Cavalcante

5. Não é de todo uma qualidade de resposta? Ah, tá, tem o negócio da diarréia do parágrafo 7, mas fazer o quê? Digamos que eu tinha de me "defender". Sim, sou agonístico, sou agônico, minha veia se constrói de metáforas bélicas, mas há um código de honra, um código de samurai - foi o que quis dizer. Mas aceito a impressão dele, tão constrangida que, logo, quer que eu troque por um eufemismo: diarréia tem efeito, é forte, é um vulcão ao contrário, ao passo que incontinência é pinga-pinga... Pinga-pinga, Ronaldo! Não, senhor - sou vulcão. Uns expelem lava, vá lá, eu... Bem, melhor ficar quieto...

6. Obrigado pelas considerações, e, de novo, pelos elogios a Peroratio e ouviroevento. Não fosse eu bem-resolvido com a questão da vaidade, ter-me-ia sentido tentado. Mas a vaidade é como roupa de grife. Não compro roupa de grife há vinte anos.

Um abraço,



OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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