sexta-feira, 5 de junho de 2009

(2009/326) Sou a favor das cotas


1. Sou branco. Tenho olhos verdes. Tá, não são azuis, mas, mais um pouquinho... Tenho descendência italiana, sou neto - só não tenho o nome, coisas de pai e mãe que não assinam documentos. Seja como for, tenho DNA europeu. Só me faltam os euros...

2. E, no entanto, sou integralmente a favor de cotas para negros, índios e "pobres" nas Universidades nacionais. Sobre isso, recomendo a leitura do "ensaio" do Elio Gaspari, que, como não leio (mais) o Globo, li por intermédio do Azenha. Com efeito, eu considero que os argumentos contrários às cotas, para dizer o mínimo, não consideram a "nação" uma grande família, e refletem, apenas, burocraticamente.

3. Penso que, como nação, temos de fazer um esforço para "nivelar", e na média, nem por baixo, que seria suicídio, mas nem por cima, porque é utópico (ao menos nas condições atuais e dadas as proporções do Brasil), mas na média, sim, é viável, a condição de formação intelectual, técnica, ética, cívica, cltural, da população. Ora, qualquer ameba ou girino sabe que as condições dos negros, dos índios e dos pobres são tais que, a despeito da "dinâmica da pirâmide social", a possibilidade estatutária de subir ou descer, não se traduz em oportunidades sistêmicas reais. Eventualmente, um preto, um índio (mais raro), ou um pobre (menos raro dos casos), consegue uma excelente posição na vida. Ma a maioria esmagadora da populçao tem seu "gueto", na prática, fixado por sua condição "racial" e/ou econômica.

4. Trata-se de uma população que precisa ser programaticamente resgatada. Sozinhos, dificilmente, todos, serão resgatados. Mas políticas públicas de Estado - ou "ações afirmativas" - proporcionarão a elas não apenas as condiçõs, mas as motivações, os incentivos, necessários. Sob a ótica da responsabilidade do Estado - obrigatórios.

5. "Os mais qualificados" - eis um cinismo darwiniano próximo ao discurso católico-romano do sexo como procriação. Alguém precisa avisar a esses senhores, e a essas senhoras, porque, nisso, homens e mulheres empatam, a estupidez é universal e multi-gênero, que há milênios "saímos" da Natureza bruta, e não nos move, mais, a lei da selva. Como ser humano, posso estender a mão ao mais necessitado, posso ampará-lo, proteger o fraco, o doente, conquanto, na Natureza, sejam esses as ofertas suaves às leoas. E, se posso, devo...

6. Como sociedade humana, e não "natural", o Brasil tem a possibilidade, daí, o dever, de trabalhar positivamente, programaticamente, a favor dos mais fracos, dos mais atrasados, dos mais desfavorecidos. Por isso sou integralmente a favor das políticas públicas de cotas.


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

2 comentários:

Felipe Fanuel disse...

Também endosso a ideia de ações afirmativas. São, no momento, o melhor mecanismo que possuímos para instituir um mínimo de igualdade. Quanto às posições contrárias, lembro-me da dificuldade que temos enquanto seres em relação social de entender qualquer mudança no seio da sociedade.

Já Durkheim observou que as mudanças institucionais acontecem de modo nem tão consciente dos resultados assim, como as pessoas acham. Na verdade, ninguém sabe bem onde as transformações na sociedade vão dar. Mas essa insegurança não é desculpa para não arriscarmos, afinal, nossa intenção é a melhor possível, promover a igualdade.

Tenho a sensação de que as cotas trarão mudanças profundas na sociedade, cujos resultados, apesar de incertos, apontarão para o ideal de Justiça que deve reger qualquer intenção ética que sirva de base para uma sociedade.

Peroratio disse...

Fala, sumido!

Bom revê-lo... Sabes que, de vez em quando, dou-te umas cutucadas desde cá - percebes? Vou lá em teu sitio (que até hoje de manhã estava empacado no aniversário!), colho amoras, e faço cá um torta, se me entendes...

Quanto às cotas - é isso aí.

Um favor: poderia precisar a passagem do texto em que o Durkheim diz o que dizes que ele diz. Cito o mesmo com referência a Edgar Morin, que chama de "ecologia da ação" ao fenômeno. Mas se a teoria é mais velha, gostaria de saber.

No mais, saúde e paz...

Osvaldo

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