quinta-feira, 28 de maio de 2009

(2009/304) Haroldo e PARECER CNE/CES Nº 118/2009 - I


1. Opa!, Haroldo, estava já com saudades... E, confesso, aguardava ansiosamente um pronunciamnto seu sobre o Parecer. Também queria o de Jimmy, mas não cheguei ainda a um nível suficiente de fé que me permita crer nisso - Jimmy terá jeito? E, contudo, mesmo seu pronunciamento, poxa vida!, tão pouquinho... Se souberas o quanto é aguardada a sua "comunicação" em Peroratio, vinhas mais a passear por estas bandas...

2. Foi boa a troca de correspondência com Zabatiero, não foi? Peroratio ficou "chique", de repente, com um doutor deitando seu tempo a dialogar com a gente. Isso não é pra lá de bom? Sim, ai houve tanto amabilidades, administradas, quanto tensões, administradas. Gosto das tensões, conquanto me ressinta psicologicamente delas, depois. É um que de isntinto suicida misturado com senso de responsabilidade "protestante", alguma coisa herdada das florestas negras da evolução humana, eu acho.

3. Mas gostaria de comentar seu post. Começo com um citado de seu § 3: "se a Teologia vem para ocupar um espaço no mundo da academia, no espaço universitário, ela deve propiciar espaços e momentos de interdisciplinariedade". Meu amigo, isso, só, já seria mais avanço do que estou disposto a imaginar que conseguiremos com a atual geração teológica. Torno-me, a cada dia, menos crédulo de que consegiremos avanços muito significativos nesse campo e direção - e o "caso" que você menciona, a "representação" da Profª Drª Marilena Chauí me parece ilustrativo disso, bem como a isso se refere aquele constrangedor "histórico" que se faz constar do Voto, triste ter que ler aquilo e saber que é "fato líquido e certo". Papelão o nosso! Melhor nem levantar quem dentre tais gestores teológicos são, ao mesmo tempo, pastores...

4. Na ágora, há uma momento de negociação e Realpolitik. Que a isso se dediquem os "negociadores", na mesa de negociações - Lula é um caso típico, e excelente, disso. O melhor que temos, eu acho. Todavia, Haroldo, quero avançar todos os sinais - todos. Não quero pensar a Tologia "negociada", alguma coisa entre perder e ganhar, abrindo mão de algumas coisas, mas não de outras. Ouso pensar uma Teologia para amanhã - mas hoje. Amanhã ela virá, e há de me encontrar à espera, na varanda, nem que seja na forma do pó que, agora, o vento sopra, se ela demorar muito...

5. Penso que, no MEC, a Teologia deveria já ingressar sobre o regime não da inter, mas da transdisciplinaridade. E não em "espaços" e "momentos", mas em todo lugar e em todo tempo. Fazer-se e pensar-se a partir dos consensos científico-humanísticos já estabelecidos na távola. Essa história de uma província epistemológica própria da Teologia, ah, isso não pode ser sério. Arrisco o juízo - não é sério. "Momentos" de interdisciplinaridade não superam esse jogo de gueto, porque abrem-se janelas burocráticas para ouvirem-se as vozes "afins", mas, quando as janelas fecham, os ouvidos teológicos voltam para o claustro de onde nunca saem, nunca.

6. Não? Então me diz: que fazem as Ciências Humanas nos cursos de Graduação em Teologia - hoje? Antropologia, Sociologia, Psicologia, História, Fenomenologia... Ah, sim, as disciplinas estão lá, mas elas não cortam a carne da Teologia, porque a Teologia lida com elas como Deus lida com os homens. Ah, um teólogo que tocou o corpo das Ciências Humanas, e não passou pela radical "quenosis" antropológica (ao contrário, aproveitam a brecha "hermenêutica" para agarrarem-se ao passado traditivo), como levá-lo academicamente a sério? Quando a Antropologia e suas irmãs nasceram, a Teologia transformou-se inexoravelmente - virou outra coisa. Isso que anda por aí é um cadáver. Ele é precisamente o "corpo de Deus" - corpo morto de Deus! - a que Nietzsche se referia, quando, profeticamente, antevia-o a ser carregado pelas costas humanas por, ainda, muitos séculos... Profeta bom esse filósofo!

7. A Antropologia arranca, necessariamente, o olho mágico da Teologia. Mas, Haroldo, você já leu os artigos - qualquer um - que defendem a Teoloia no MEC "como ela é e está"? Sem constrangimentos, ali se defende que a Teologia tem um olhar como que de Deus - isso é dito literalmente, Harolo! De que adiantam "momentos de interdisciplinaridade", aí? De nada! Salvo, apenas, e olhe lá, para dar um ar de "científico-acadêmico" ao que é, sem tirar nem pôer, mítico-traditivo. Mas se trata de um "xamã" de ceroulas - ou nu... Platão barroco.

8. Penso, então, meu caríssimo professor (saudades de suas aulas - eram ou não eram momentos místicos, aqueles?) que é preciso ser mais audacioso, menos flexível: a Teologia tem que assumir a Epistemologia do jogo. A sua (dela) não vale. A sua sequer é Epistemologia - é self deception. Transdisciplinaridade - pensar Teologia com cabeça antropológico-sociológica, psicológico-fenomenológica. Menos do que isso é fazer como que com a Abolição da Escravatura - você faz que aboliu, mas, na prática, soa um tanto quanto cínica a história.

9. Não acabei. Mas fico por aqui. Essa foi uma provocação profundamente honesta e franca. Ela se desdobra desde uma utopia acalentada - a superação do provincialismo imperialista-missionário da Teologia "cristã" (1), que precisa abrir-se para a reflexão hiperônima da Teologia acadêmica. Suspeito, contudo, Haroldo, que nossos teólogos estejam tão profundamente presos ao modelo qiriarcal de Nicéia/Roma que tenham dificuldades de perceber que não estamos tratando de outra coisa que não cultura humana, demasiadamente humana...


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

1. Um testemunho pessoal desse "padrão" imperialista-missionário da Teologia. Curso "secular" de Teologia, no Rio, quando de sua fase de montagem (ao que tudo indica, abortado, não sei se definitiva ou provisoriamente). Numa das reuniões, aprensentaram-me o Projeto. Da grade, constava a disciplina "Missão da Igreja". Eu perguntei o que "uma disciplina dessas" fazia ali, num curso "secular". Foi-me confessado que não se dera conta disso, até aquele momento... É que (essa) Teologia "é isso"... Oh, sim, peguemos O Celeste Porvir e "expliquemos" esse "cristianismo de cruzada" - um "tipo" dentre vários... Mas eu não quero qualificá-lo - quero desqualificá-lo, posto que impertinente e impróprio para uma civilização adulta. E aí está o problema nosso, que, parece, Bonhoeffer o viu desde o cárcere.

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