sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

(2008/121) Símbolo e Deus


1. Relevante a resposta de Osvaldo a Felipe sobre a teologia, a 'velha' e a 'nova' teologia. A diferença entre está em que a primeira parte de um dado apriorístico apreendido na fé e no dogma; a segunda deverá fazer o seu caminho e diretrizes já há. A 'nova teologia' necessariamente deverá fazer o caminho pelos passos da fenomenologia da religião se intentar ser heurística ou buscar seriamente o diálogo no espaço acadêmico-científico. Há que se fazer remontar o conteúdo e o conceito de ‘revelação’ ao que se passa na consciência do sujeito interpretante, que é aquele que, efetivamente, utilizando-se de sua capacidade simbolizadora, e sabendo que o sabe, pode tecer as teias de um discurso sobre o percebido na ‘hierofania’. Claro, sempre o fará nos códigos de (sua) linguagem culturalmente condicionada. Em todo o processo, o ponto de partida deve ser o sujeito interpretante e a sua percepção ou sua interpretação.

2. Tem razão Osvaldo em dizer que Severino Croatto comete enganos no vai e vem entre teologia e fenomenologia. Croatto foi teólogo, exegeta, filósofo, historiador, fenomenólogo. Foi isso tudo como busca continuada por saber e formação. Na Argentina, ele gozava a fama de ser um grandes eruditos. Ele foi também tudo isso por buscar dialogicidade entre saberes alocados em cátedras distintas. Para quem o conheceu - e eu tive essa honra e alegria - sabe que estava diante de um parceiro sério e dialógico, embora firme em suas convicções. A função dos leitores, críticos e, especialmente, dos discípulos é superar os mestres, dialogicamente, dialeticamente; neste sentido nos 'apropriamos' de Croatto.

3. Na descrição da hierofania, em seu livro As linguagens da experiência religiosa, Croatto efetivamente comete o equívoco de deixar o sujeito interpretante fora do relato hierofânico, mas ele sabe que é ele que está lá como sujeito. Nessa correção e no olhar mais atento sabe-se que a fómula "Deus é símbolo para Deus" não é possível ou correta em termos fenomenológicos.

4. Mas, salvo melhor juízo, a nova fórmula, proposta por Osvaldo no blog 120/2008, "Deus é símbolo para Deus para quem crê em Deus" também tem seus problemas. Até onde me recordo da teoria sobre o símbolo, e aí vou pelas indicações deo próprio Croatto, e também de Abner Cohen, em seu livro O homem bidimensional, símbolo implica sempre uma relação entre significante e significado(s). Há relacionalidade. O símbolo remete a algo desconhecido por meio de algo conhecido, transignificando este algo conhecido, que passa a ser elemento simbólico remessivo para o desconhecido, isto é a presença ou ausência sentida. Na fórmula proposta por Osvaldo, está presente o sujeito interpretante, mas há uma duplicidade do elemento ‘desconhecido’. (Dentre as 3 vezes que aparece a palavra 'Deus' tomo a terceira como elemento adjetivar de "pessoa que crê". Ora, vejo problema nas duas primeiras ocorrências. ‘Deus’ não existe no mundo fenomênico a ponto de poder ser transformado em símbolo para ‘Deus’ como ausência ou desconhecido. Somente um elemento fenomênico, portanto, ‘conhecido’, pode ser transformado em símbolo. O símbolo deve fazer visível o mistério que se capta, se sente (ou se projeta ou presume). Até se poderia dizer que “Jesus é símbolo para Deus” como o propõe o padre Haight Roger em livro com este título, na medida em que se toma o Jesus histórico como elemento fenomênico remessivo para Deus. Esse caminho é possível, porém é complexo, pois para se chegar ao Jesus histórico há que se passar necessariamente pelas construções do Jesus da fé.

5. Por isso penso que um dos elementos da proposição de Osvaldo deveria mudar. Algo para ser símbolo de Deus deve ser algo captável no mundo fenomênico.

6. Com relação ao nome, sei lá. Há que se repensar.

7. Se a 'nova teologia' tiver o mesmo nome, não deve repetir erros da 'velha'. Dialogicidade deve haver. Pois só esse é caminho para verdeiro conhecimento.


HAROLDO REIMER

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