terça-feira, 18 de novembro de 2008

(2008/54) Que pulsão é essa?


1. Que pulsão é essa de "falar" de Deus, a partir de Deus, numa perspectiva do discurso que faz crer a quem o ouve que o falante fala (mesmo!) desde a posição de Deus? O que é essa pulsão? De onde isso vem?

2. Quando se trata de pessoas, moços e moças, homens e mulheres, que passaram pela formação acadêmica - que seja a graduação em Teologia, meu Deus! (ali não se aprenderam todas as Ciências Humanas? [que digo?, mesmo os professores delas têm o vício!]) -, confesso, fica ainda muito mais difícil de compreender a pulsão. Hábito, mania, vício? Descontrole? Síndrome de Tourrete? Não sei. Não consigo entender. Bem, Deus mesmo é que não pode ser... Será?

3. Não que não haja teorias. Há: teorias "psicológicas", "sociológicas", "antropológicas", "políticas". Teorias há. Mas elas, as teorias, não alteram em nada a situação: blogs estão ploriferando (eles até mandam e-mail "chamando" você!, não se contentam em escrever, mas têm que enviar folhetos!), como nas TV, onde moços e moças falam a partir de Deus - isto é, "como que a partir de Deus", porque é óbvio (menos para eles?) que não falam, absolutamente, em nenhuma hipótese (radical, não?), a partir de Deus. Fazem que falam. Talvez com isso queiram publicidade, autoridade, credibilidade, status. Talvez com isso consigam, mesmo, o que querem - Deus é um excelente ímã, os reis já aprenderam isso há milênios, e, seja como for, o regime democrático não impede que consciências sejam manipuladas por retóricas "divinas".

4. Ah, e não falo só da "direita", não, falo da "esquerda" também. A prática de falar como que a partir de Deus é comum à teologia "clássica", aquela cujo fundamento é o pecado original, e toda a dor da sociedade deriva daí, tanto quanto à teologia de esquerda, aquela cujo fundamento é a infra-estrutura social/material injusta (um surpreendente fundamento marxista, cuja receita, vejam só, é também o ópio da direita), toda a dor duma sociedade derivando daí. Para o pecado original, ou para as infra-estruturas materiais injustas da sociedade, Deus neles!, e seus "profetas"!

5. O problema é o quê?, retórica? Quer-se tanto a "solução" que não se perguntam mais pelos meios que se organizam para chegar a ela? Toma-se o sujeito de tamanha cegueira que não se lhe dá o absurdo de falar em nome de Deus? Perdeu-se, teve-se uma vez, o senso de civilidade? Vamos ler mais Ester, pessoal!, pra ver se aprende que dá pra ter "fé" sem ficar tagarelando divinamentos...

6. Estou absolutamente imprestável para meu tempo. Mesmo entre alguns dentre meus mais próximos (Bel, socorro!), vou tornando-me um estranho, um lunático - ah, sim, quando a regra, a normalidade, é abrir a boca e falar em nome de Deus, mil vezes no dia, e você é quem acha isso a coisa mais estranha, mais constrangedora, a patologia só pode ser sua. O normal é ser oráculo. Se o diabo me quisera descrente, não teria conseguido fórmula mais eficaz...


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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