(2020/013) Retire-se, indesejado, ou porque não costumo participar de grupos de pesquisa

A despeito de eu estar na academia e de eu produzir acima da média, devo reconhecer que sou imprestável para o modelo estabelecido: sou intragável, pouco político, e mais amigo da verdade do que de Platão.

Já fui convidado a deixar uma classe de estudos. Alunos consideraram que minha presença era desagradável, porque as coisas que eram ditas por eles eram, muitas vezes, contestadas por mim, que sempre achei que estávamos estudando e fazendo pesquisa, e não em um concurso de quem fala o que quer falar...

Já fui ameaçado no banheiro da Faculdade por alunos que apresentaram um trabalho, sustentaram o discurso com um argumento, e eu, pedindo a palavra, usei seu argumento contra eles mesmos, para mostrar como não sustentavam em nenhuma hipótese o que estavam dizendo. Quase apanhei naquele banheiro, mas me disseram que eu queria aparecer...

Já deixei grupos de pesquisa, porque minha visão do teórico estudado destoava da clássica repercussão. Mesmo eu mostrando, no próprio texto, o equívoco grosseiro do teórico - no caso, uma teórica - os olhos me fuzilavam,. porque eu estava estragando a brincadeira. Não discuti, não brigamos, apenas nunca mais voltei.

Difícil encontrar alguém para fazer pesquisa conjunta. Ao mesmo tempo, não se constrói lastro na academia, se não tiver relações e contatos. Logo, é esperar os dias da aposentadoria, recolher os materiais, ir embora, e deixar soltos pelo mundo os textos que, sozinho, eu e meus livros, que doei, eu e as pesquisas, eu e a contribuição de vários professores queridos elaboramos e publicamos. Sim, eu os assinei todos, mas não poderia ter começado sem a ajuda de professores. 

Tornei-me um lobo solitário, e a academia é uma alcateia, que muitas vezes cobra lealdade a Platão. Como sei meu lugar, recolho-me aos meu claustro.

OSVALDO LUIZ RIBEIRO