quarta-feira, 10 de outubro de 2012

(2012/699) Da demência religiosa e teológica


1. O "homem de Deus" arde de santidade e nojo contra o pecado - e, então, ele encontra uma comparação perfeita para denunciar o que considera a podridão da alma de seu povo: uma camela ou jumenta no cio. É Jeremias.

2. No capítulo 2, aquele que escreveu aquelas palavras diz que o povo é como a jumenta no cio, cheirando o vento, cheira aqui, resfolega ali, atrás do macho, ardendo em ânsias de lhe oferecer as ancas.

3. Jeremias acha essa cena, uma jumenta fértil, um bom paralelo para a atitude religiosa do povo. A sexualidade da jumenta é tornada imunda, assim como considerava a religiosidade popular também imunda... 

4. Um caso de demência.

5. Há um outro. Esconde-se uma contradição enorme na história de Judas, mas não me interessa a história do personagem - nem do sujeito histórico, se houve. Interessa-me o teólogo e pregador, e os malabarismos que faz com esse caso...

6. É assim que ele diz. Jesus estava destinado desde o início dos tempos a morrer. Ponto. Para morrer, Judas o trai. Logo, Judas é a principal peça dessa histórica predeterminista - Deus manda Jesus morrer, Jesus morr, mas é Judas quem aperta o botão.

7. Acho isso uma demência. Das duas uma: a) ou não havia nada de premeditado e foi tudo um acidente, por conta de uma traição - e, nesse caso, Judas é mesmo um traidor, ou b) tudo foi premeditado e Judas é um operário da salvação, que, em lugar de ser malhado, deveria virar santo...

8. Mas, na teologia e na pregação, Deus estava o tempo todo no controle, tudo estava "preparado", a salvação era um item do "planejamento" divino e, todavia, Judas é... traidor...

9. Se traiu, não havia controle. Se havia controle, foi usado. Ponto.

10. O resto é apologia.

11. Não admira que logo cedo, gente não alinhada com a apologética da tradição "paulina" tenha visto em Judas um herói...

12. Mas para nós, os "santos", ele é um traidor - um traidor na economia predetermiista da História e da Economia da Salvação...

13. E você quer coerência no discurso teológico!...





OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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