segunda-feira, 3 de setembro de 2012

(2012/663) Três dedos de psicanálise e a história toda vem à tona


1. É da alma humana. Não sei se tem cura. Tem controle, domesticação, adestramento, processo de civilidade na veia e, então, se põe a fera para dormir - mas cura, cura, não, não creio.

2. Trata-se daquele fenômeno de "bando". Sozinho, não se faz. Você sabe que é avançar um limite que o olho no olho impõe, limite que não se disfarça no riso público e tribal: sozinhos, os dois, é um a um, olho no olho, não há espaço entre os dois para os risos de gaiato...

3. Mas, no "bando"... No bando, você faz e diz o que bem deseja. E ultrapassa, no pecado da alma, aquele limite. É uma doença da alma, um sentimento mau, perverso, que a gente carrega: usa a tribo, o bando, a turba, para dar espaço a ela - e ela abre as asas, harpia de veneno, e bica, e pica, e canta...

4. O bando tem de emprestar seu apoio. Se não empresta, e nem sempre se empresta e nem todo mundo empresta, a doença volta para a cloaca de onde saiu - e saiu porque tem de sair e, quando encontra ocasião, sai. Mas, então, não encontra eco, guarida, bando. Não encontrando, volta para seu negrume intestino.

5. Mas, quando o bando dá ocasião à doença de lobo, pronto, pobre de quem for vítima das "brincadeiras" - será humilhação pública...

6. Depois, se a coisa se voltar contra o bando, cada um dirá, protegendo-se no outro, que era brincadeira...

7. Brincadeira... 

8. Bem besta, para dizer o mínimo.

9. Como eu disse, é a doença da alma humana...

10. Três dedos de psicanálise dariam vinte e sete parágrafos sobre essa "brincadeira"...

11. Fazer o quê? Fingir... Fingir que não liga. Fingir que não fere. Fingir. Liga, sim, fere-se, sim, mas é melhor fingir que não. E esperar que o tempo cure, e que a gente esqueça daquele momento.

12. Se esquecemos? Esquecemos, sim. Cada qual faz sua catarse... Mas, um belo dia, seu corpo reage de um modo estranho à aproximação desse ou daquele - é somática a defesa, e você se lembrará daquele dia...

13. Como as cicatrizes que, com o tempo, vão desaparecendo - até que fique apenas uma imagem leve sobre a pele. Mas, se você espremer a pele por ali, verá que o sangue não circula naturalmente, como à volta - é como uma marca de ferro: solta-se o cavalo no pasto e ele corre ligeiro, mas marcado...



OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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