1. Pressuposto um: Gn 1,1-2,4a foi escrito por volta de 520. Para mim, por escribas liturgistas/sacerdotes a serviço de Zorobabel, para a inauguração do Templo - o que se daria em 515. Zorobabel "desaparece" - o projeto de restauração "monárquica" é reformulado. Tornar-se-á sacerdotal.
2. Pressuposto dois: Gn 2,4b-3,24 é escrito por volta de 450, pouco antes, quem sabe?, de qualquer forma, para mim, necessariamente após Gn 1,1-2,4a. Escrito por sacerdotes, para legitimar a nova ordem sacerdotal, da qual faz parte a condição de amaldiçoados por Deus que deve incidir sobre a terra, o camponês e a mulher.
3. Nas duas narrativas, distantes uma da outra cerca de meio século, "Adão". Em Gn 1, ele é a imagem de Deus - como o rei da Babilônia é a imagem de Marduque, deus babilônico -, e ele tem o domínio do mundo. Já o Adão de Gn 2-3 é o camponês, tirado da terra, e, ao final, maldito e expulso da presença de Deus.
4. Não é, evidentemente, a mesma imagem, conquanto seja o mesmo nome.
5. Sem me importar nem me reportar às racionalizações doutrinárias sobre o caso, uma pergunta me tem acompanhado: de onde vem o termo "Adão"?
6. Textos cronologicamente anteriores - Sl 53, por exemplo, Sl 58, tantos outros, conhecem a expressão "filhos de Adão" como referência ao rei e aos seus "empregados" - exército, corpo sacerdotal e profético, escribas, secretários. Penso que seja daí que Gn 1,1-2,4a extraia a expressão: os homens do rei são os filhos de Adão, porque o rei é o próprio Adão.
7. Mas a indicação do rei como Adão, se leio Gn 1 corretamente, é do século VI - se os textos que conhecem a expressão filhos de Adão como os homens do rei são anteriores, de onde vem a expressão Adão?
8. Não, a relação com "adamah", terra, me parece secundária. Útil para Gn 2-3, mas não me parece resolver a questão do domínio de Adão sobre a criação, papel que cabe ao rei, nunca, ao camponês.
9. Tem de haver outra explicação.
10. Estou atrás dela.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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