1. O fiel ortodoxo agarra-se à doutrina: nela, está Deus. É a síndrome de Barth: "Deus está na Doutrina, e a Igreja deve ter uma e apenas uma única doutrina". O mais católico de todos os protestantes, Barth: e isso o disse Hans Küng em seu velório: morria quem poderia fazer a ponte entre as duas Igrejas...
2. Mas Deus não está na doutrina. Doutrinas são invenções humanas, datadas, circunstanciadas, cheias de intenções, cheias de sangue, também.
3. Quando se dá conta disso, o cristão olha para todos os lados, à busca de salvação. E encontra a mística...
2. Mas Deus não está na doutrina. Doutrinas são invenções humanas, datadas, circunstanciadas, cheias de intenções, cheias de sangue, também.
3. Quando se dá conta disso, o cristão olha para todos os lados, à busca de salvação. E encontra a mística...
4. Estou salvo, ele grita...
5. Está, não. A mística não é um fenômeno não-antropológico. Não tem a mesma dimensão da doutrina, mas tem o mesmo fundamento. Nasce da crença e é tributária dela: não é verdade que a mística dribla a crença e a doutrina - não, ela apenas lida com elas de modo fluido e não fixo, mas não fixo em palavras, mas ainda assim, fixo em significado. Na mística, Deus permanece Deus, Jesus, Jesus, o Espírito, o Espírito... As estradas para chegar ao pensamento dessas grandezas é que se faz de luz, não de celulose: mas é ainda lá que se deve chegar - e se chega.
6. O cristão dá-se conta disso - de modo sofrido, é verdade -, e, então, já em desespero, olha freneticamente para todos os lados, atrás de salvação.
7. E encontra a poesia... A poesia é o caminho para Deus... E aí já se revela que não se saiu do lugar. Trata-se, sempre, de caminhos alternativos, de picadas na mata, para, todavia, chegar-se ao mesmo lugar: àquele destino mítico/doutrinário/místico/poética - e político - que é a crença.
8. O cristão dissolve a crença em formas tão fluidas - mística, poesia - que perde a capacidade de perceber que é, ainda, a doutrina quem o maneja e manipula. A Ideia - a tese é de Morin - possui-nos tão fortemente, que nos entregamos a ela. E, quando ameaçada, ela se disfarça - e a mística e a poesia são disfarces sutis da Ideia: quem a essas máscaras empresta a face, cuida ter-se libertado, e, pecado!, continua lidando com o mesmo mundo de sempre: doutrina.
9. O risco não é apenas manter-se acorrentado, julgando-se livre.
10. O risco que me parece maior é a soberba: cuidar-se "espiritual", "estético", "superior", em relação aos "doutrinados" - é a síndrome da soberba da mística e da poesia: e eis um cristão duas vezes pior do que era. Tão cego quanto antes, mas, agora, soberbo... Ainda mais.
10. O risco que me parece maior é a soberba: cuidar-se "espiritual", "estético", "superior", em relação aos "doutrinados" - é a síndrome da soberba da mística e da poesia: e eis um cristão duas vezes pior do que era. Tão cego quanto antes, mas, agora, soberbo... Ainda mais.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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