sexta-feira, 30 de março de 2012

(2012/337) Papai Noel, Feuerbach e Freud


1. Quando eu era criança, ensinaram-me sobre Papai Noel. Era maravilhoso. O mais fantástico Natal que tive foi num que mamãe disse que não teríamos presentes. Mas no dia, tivemos. Foi mágico... O segundo Natal mais fantástico foi aquele com o lançamento de O Natal da Mônica. Éramos pobres, mas as rabanadas eram as melhores do mundo...


2. E, naturalmente, fomos descobrindo, percebendo e, finalmente, nos ensinaram, quando estávamos grandinhos, que Papai Noel era mamãe e vovó. E passamos nós mesmos a ir à loja de brinquedos. Mamãe, coitada, não tinha nenhum dinheiro - que sofrimento para ela.

3. Ainda lembro com carinho de Papai Noel. Ver a sua imagem me leva de volta àqueles dias - e eu não tenho nenhum problema em saber que eram bons, mas falsos. Era um mito de época, de idade. Quando se cresce, não faz sentido...

4. Os adultos, todavia, descobri depois, têm seus próprios mitos. E não querem largá-los. É como se as crianças, quando lhes contam que Papai Noel é mito, e que é papei e mamãe ou vovó quem realmente compram os brinquedos, recusassem-se a admitir, e vivessem seus faz-de-conta.

5. Os adultos são, a seu tempo, os Feuerbachs das crianças - ensinam-nos que Papai Noel era uma agradável mentira infantil, se bem que inventada por adultos.

6. Mas os adultos não querem saber dos Feuerbachs dos adultos. Não querem admitir seus mitos, e plantam árvores em suas próprias cabeças, com raízes em seus corações. Vedam a chaminé e não permitem sequer que a fumaça saia... Não querem riscos.

7. Não é mais um caso para Feuerbach. É um caso para Freud.



OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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