1. Levará um bom tempo ainda, eu imagino. Mas, também acredito, há boas chances para que, algum dia, cheguemos lá. Falo da capacidade de a Teologia ganhar consciência concreta de que, afinal, é mais do que desejara...
2. Desde 1999, no Brasil, a Teologia constitui uma "disciplina" oficial e formalmente reconhecida e recebida no Sistema Federal de Ensino. Isso faz dela uma das disciplinas que compõem o rol das Ciências Humanas. Dá diploma "reconhecido", agora. Tem "fé" pública...
3. Há dois mil e quinhentos anos atrás, nascia o termo. Lá, e então, o ambiente era não apenas politeísta, posto que grego, mas "filosófico", também, ainda que, a rigor, "filosofia", então, não se distinguia de "teologia" - a distinção, mesmo, somente a partir da invenção da crítica moderna, mercê dos aprofundamentos protestantes ocidentais. Antes, indistinção...
4. Nascida "filosófica" e politeísta, fez-se monoteísta e cristã depois que a Igreja tomou o poder no Ocidente, isso ainda em sua fase pré-moderna. E foi o que é desde então - metafísica, dogmática, normativa.
5. Isso até o século XIX. Aí, o Estado separou-se da Igreja, e a Teologia manteve algum "valor" apenas lá, onde, na prática, Estado e Igreja ainda mantinham relações íntimas - Itália, Alemanha, Inglaterra... Na França, a coisa não foi bem assim.
6. Herdamos as categorias universitárias francesas, de recorte positivista, de modo que a Teologia, no Brasil, cristã, coisa de Igreja, nunca recebeu reconhecimento. Há trinta anos, entrou pela pós-graduação, e, em 1999, entrou na Graduação. Teologia, agora, é in, é MEC.
7. Mas não é mais cristã. Não - Teologia não é mais cristã, no sentido de que, agora, Teologia é um recorte plural, multireferencial, multi-religioso: dentro do que se chama Teologia, no MEC, há recortes cristãos, umbandistas, kardecistas, messiânicos.
8. Antigamente, e fora do MEC, quando se fala de "Teologia", se estava e está falando de Cristianismo. No MEC - e quem lá esteja -, quando se fala de "Teologia", não está mais falando de Cristianismo - necessariamente. Está-se falando de um recorte das Ciências Humanas. Se é intenção de quem usa o termo, no MEC, recortá-lo de seu ambiente plural, é dever epistemológico e comunicacional informá-lo: "aqui, falamos de Teologia cristã".
9. Não especificar de que Teologia se fala, ao mesmo tempo em que se usa o termo em uma única dimensão "religiosa", a meu ver, constitui falta epistemológica e ética. Inconcebível. Há que, das duas uma: a) aprender-se a usar o termo em seu sentido amplo e "legal", e b) anunciar, explicita e respeitosamente, quando for o caso, que recortamos o termo desde sua ampla generalização, e o empregamos numa particular dimensão de "tradição".
10. Não se trata de preciosismo. Se trata de dar reconhecimento a quem o angariou, a quem o tem, de direito. Ainda que, tendo ido bater às portas do Estado, a Teologia cristã tenha pretendido lugar "para si", o fato é que, para entrar, adquiriu, igualmente, lugar para todos os demais religiosos, esses mesmos que a fé cristã cuida dever salvar, posto, a seus olhos e dogmas, serem perdidos. Constrangimento inimaginável. Mas uma das mais agradáveis ironias desse novo milênio...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
2. Desde 1999, no Brasil, a Teologia constitui uma "disciplina" oficial e formalmente reconhecida e recebida no Sistema Federal de Ensino. Isso faz dela uma das disciplinas que compõem o rol das Ciências Humanas. Dá diploma "reconhecido", agora. Tem "fé" pública...
3. Há dois mil e quinhentos anos atrás, nascia o termo. Lá, e então, o ambiente era não apenas politeísta, posto que grego, mas "filosófico", também, ainda que, a rigor, "filosofia", então, não se distinguia de "teologia" - a distinção, mesmo, somente a partir da invenção da crítica moderna, mercê dos aprofundamentos protestantes ocidentais. Antes, indistinção...
4. Nascida "filosófica" e politeísta, fez-se monoteísta e cristã depois que a Igreja tomou o poder no Ocidente, isso ainda em sua fase pré-moderna. E foi o que é desde então - metafísica, dogmática, normativa.
5. Isso até o século XIX. Aí, o Estado separou-se da Igreja, e a Teologia manteve algum "valor" apenas lá, onde, na prática, Estado e Igreja ainda mantinham relações íntimas - Itália, Alemanha, Inglaterra... Na França, a coisa não foi bem assim.
6. Herdamos as categorias universitárias francesas, de recorte positivista, de modo que a Teologia, no Brasil, cristã, coisa de Igreja, nunca recebeu reconhecimento. Há trinta anos, entrou pela pós-graduação, e, em 1999, entrou na Graduação. Teologia, agora, é in, é MEC.
7. Mas não é mais cristã. Não - Teologia não é mais cristã, no sentido de que, agora, Teologia é um recorte plural, multireferencial, multi-religioso: dentro do que se chama Teologia, no MEC, há recortes cristãos, umbandistas, kardecistas, messiânicos.
8. Antigamente, e fora do MEC, quando se fala de "Teologia", se estava e está falando de Cristianismo. No MEC - e quem lá esteja -, quando se fala de "Teologia", não está mais falando de Cristianismo - necessariamente. Está-se falando de um recorte das Ciências Humanas. Se é intenção de quem usa o termo, no MEC, recortá-lo de seu ambiente plural, é dever epistemológico e comunicacional informá-lo: "aqui, falamos de Teologia cristã".
9. Não especificar de que Teologia se fala, ao mesmo tempo em que se usa o termo em uma única dimensão "religiosa", a meu ver, constitui falta epistemológica e ética. Inconcebível. Há que, das duas uma: a) aprender-se a usar o termo em seu sentido amplo e "legal", e b) anunciar, explicita e respeitosamente, quando for o caso, que recortamos o termo desde sua ampla generalização, e o empregamos numa particular dimensão de "tradição".
10. Não se trata de preciosismo. Se trata de dar reconhecimento a quem o angariou, a quem o tem, de direito. Ainda que, tendo ido bater às portas do Estado, a Teologia cristã tenha pretendido lugar "para si", o fato é que, para entrar, adquiriu, igualmente, lugar para todos os demais religiosos, esses mesmos que a fé cristã cuida dever salvar, posto, a seus olhos e dogmas, serem perdidos. Constrangimento inimaginável. Mas uma das mais agradáveis ironias desse novo milênio...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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