quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

(2011/055) Duas lições "teológicas" da orla de Vitória nesse 02/02


1. Uma das vantagens de eu ter-me transferido para Vitória - empurraram minha vaquinha, vejam vocês! - é poder caminhar pela orla de Camburi. Residindo eu a três quarteirões da orla recém-inaugurada (ou reformada), com pista de pedestres, patins, outra para ciclistas, bancos, árvores, um "luxo" a que eu não tinha acesso, residindo em Mesquita, no coração da Baixada Fluminense, no Rio, procuro aproveitar todas as noites. Desde que cheguei aqui, há vinte dias, talvez tenha deixado de andar no máximo duas vezes... Sou grato a Deus por essa oportunidade...

2. Hoje, ela revelou-se duplamente interessante. Hoje é 02/02, dia de Iemanjá. Quem lá estava? Grupos de umbandistas (já que todos tinham imagens de Iemanjá, que se conjudem com Nossa Senhora dos Navegantes, não são do candomblé, provavelmente), reunidos ali, próximos do pier de Iemanjá, com atabaques, roupas caractísticas, cantos...

3. Duas coisas me chamaram a atenção. A primeira delas, uma cena inédita - ao menos para mim: duas mulheres tocando atabaque. Passei minha infância e parte da adolescência em ambientes de umbanda, candomblé e queto, e em nenhum desses ambientes, jamais mulher alguma tocou atabaque, privilégio de homens. Todavia, para minha agradável surpresa, lá estavam elas duas, tocando o atabaque em plena areia de Iemanjá... Por que transformações terá passado a tradição umbandista desde que perdi de vista os seus ritos?

4. Outra coisa, dessa vez mais íntima: eu, um professor de Teologia, ali, observando três grupos, um dos quais bem grande, ao todo, umas trezentas pessoas, em pleno culto umbandista, pensei em meus colegas teólogos (cristãos), particularmente nos que estão "dentro" do MEC, que conflitos não sentirão olhando a mesma cena...

5. De um lado, sua confissão, sua doutrina, seu dogma - se Cristo não tem, se cristão não é, salvo não está, e, l,ogo, carece da redenção, da graça, da salvação. De outro lado, seu ingresso no MEC, instância na qual não há distinção entre Teologia cristã e umbandista, e para quem, então, na qualidade de "professor", um culto umbandista na orla ou um culto da Igreja evangélica do bairro são a mesma coisa, o mesmo fenômeno, têm a mesma dimensão, o mesmo valor...

6. O ingresso da Teologia no MEC foi tão intempestivo, as suas conseqüências disso são tão graves, que deve ser muito difícil, muito, mas muito mesmo, achar algum professor de Teologia para quem, no íntimo (e não apenas na retórica), essas coisas estão resolvidas - no plano da cultura, onde devem ser colocadas todas as "Teologias", dão-se por resolvidas... Os demais, maioria absoluta, arrisco dizer, terão de, com um pé, dizer Amém, e, com outro, Deus-me-livre... Contradições da vida de "teólogos" que somos...


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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