1. Há algum tempo, talvez uns cinco ou seis anos, fui gentilmente inquirido por meu diretor a respeito da pedagogia, ou seria da didática?, que eu adotava. Diante de uma turma de graduação, ainda que deixando muito clara a minha própria posição, eu me esforçava por apresentar aos alunos uma "estante" de teorias, deixando-os "livres" para decidirem qual delas escolheriam.
2. Eu pus o "livre" entre aspas, porque esse exercício didático-pedagógico se dá, sempre, em contexto passional, e eu não consigo meramente apresentar um tema: cada apresentação minha se faz acompanhar de minha paixão pró ou contra, bem como de uma tentativa de fundamentação desse "gosto".
3. Todavia, a questão a que eu era chamado a refletir não era exatamente o fato de eu influenciar alunos - mas a parte em que eu punha teorias sobre a mesa, e os deixava escolher, sem direcionamento, sem normatividade, ainda que à luz de uma ampla discussão de pós, contras, riscos, oportunidades. O fato de os alunos não serem "dirigidos" estava sob questão. E a pergunta que ouvi foi: você acha que isso é educação?
4. Bem, até hoje faço assim. E penso que há um problema muito maior do que não assumir uma posição diretiva diante de alunos, ao mesmo tempo em que se assume uma posição. Trata-se daquela em que o professor, adepto de um determinado "teórico", faz dele chão e parede, teto e cenário de sua "filosofia", de modo que os alunos acabam tomando um banho desse autor. Um agravante torna a coisa toda ainda muito mais grave: os alunos só conhecem o "lado A" da coisa, o lado "bom". Só sabem apontar as "virtudes" do teórico e da teoria, as mais das vezes reproduzindo os mesmos argumentos de seus mestres.
5. Mas o que ocorre quando você, um a um, questiona os fundamentos do teórico ou da teoria?, quando você mostra ao aluno que ele só parece estar ciente do lado considerado bom, aprovado, mas parece desconhecer as críticas aplicáveis à teoria abraçada?
6. Bem, uns, querem voar no seu pescoço, balançam a cabeça, aborrecidos, como se você fosse a maior besta do planeta, ou um estraga-prazer. O fato de ouvirem o contraditório não lhes abre o entendimento de que podem estar errados, de que podem ter-lhes ensinado algo incompleto - o errado é quem lhes desafia... Outros, todavia, descobrem que têm na mão apenas um lado da moeda - e imagino o sentimento de "traição" que devem sentir, ainda que amenizado pelo fato de que, afinal, acabam por receber também o lado inverso...
7. O problema disso está no fato de que há professores que abraçam determinadas teorias, e tanto, que apenas conseguem reproduzir o que aprenderam, tanto para si quanto na formação de seus alunos. Pensam, até, que desenvolvem uma didática "não opressiva", contemporânea, porque muitas dessas teorias são muito contemporâneas... Todavia, pode-se ser um velho marxista, e, todavia, ser pedagogicamente mais coerente do que algum eventual docente ultra-atualizado com as teorias de hoje, mas carregado por uma didática tão reprodutora quanto a do marxismo de carreira.
8. É preciso ensinar aos alunos as teorias - todas. É preciso ensinar a eles os pontos positivos e negativos de todas elas, todos os riscos de todas elas, todas as suas virtudes e defeitos, oportunidades e insuficiências. E, acima de tudo, é preciso ensinar aos alunos a crítica, formá-los, mais do que informá-los - e desejar, profundamente, que consigam criticar nossa própria pedagogia, ensinando-nos a não reproduzirmo-nos neles, mas a entregar-lhes o cinzel com que devem - eles mesmos! - cortar a própria carne. É preciso amar as próprias teorias - mas não mais do que aos alunos...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
2 comentários:
Concordo, inclusive, tenho eu também praticado isto. Se queremos formar pessoas com alto nível de escolaridade, precisas nos pautar no desenolvimento intelectual, o raciocínio rápido, a absorção, o senso crítico e também a visão global dos educandos. Foi-se o tempo da didática engessada...
Att.,
Profº Netto, F.A.
Grande mestre,
Sabias e bem colocadas suas palavras,alias, como sempre bem direto e verdadeiro!
Saudades de tudo que você representa para nós, seus alunos e amigos!
Jason Costa
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