1. Quando decididas a obterem um certo grau de paz civilizatória por meio da supressão dos fundamentos do real, como se o real fosse o culpado pelas desgraças, e como se não tivéssemos aprendido sobre o princípio de realidade e o princípio de prazer, a Filosofia e a Hermenêutica do século XX foram em busca de um bordão - e o encontraram em Nietzsche: "não há fatos, só interpretação de fatos". Voilà... Como soa "inteligente", não? Tanto quanto: "tudo é relativo". Ora, se tudo é relativo, a própria declaração categórica de que tudo é relativo é, por sua vez, relativa, de modo que é relativo dizer que tudo é relativo, do resulta necessário declarar, ao mesmo tempo, que nem tudo é relativo, já que é relativo que tudo seja relativo... A mesma coisa se aplica ao bordão do século XX: se não há fatos, só interpretação de fatos, não é fato, mas interpretação, que não haja fatos, só interpretações, de modo que não é fato que não haja fatos...
2. Os fatos são contundentes - quando eles caem sobre a nossa cabeça, é como aquela pequena poesia do Strunf poeta: "na floresta, no outono, reina o silêncio absoluto: é doce a queda da folha... é dura a queda do fruto...". Sim, dura é a queda dos fatos sobre a cabeça dos desavisados.
3. Por exemplo: fato indiscutível, FHC utilizou-se da estratégia de alterar a Constituição para ganhar um segundo mandato - e, corre à boca miúda (será fato?) que o preço não foi nada barato... O que a mídia diz, hoje, sobre isso? Nada. Nadica de nada. Ele pode. A direita pode. Os sabujos podem. Lula podia ter feito o mesmo, e conquistado um terceiro mandato. Tinha o Congresso a seu lado, o povo, a História. Quanta gente da direita encolheu-se na poltrona, apavorado de que Lula o tentasse - porque, se tentasse, levava. Mas Lula não o fez. Entrou e saiu. Fato. Todavia, quem é que está disposto a levar os fatos em consideração? Certamente não a Filosofia, a Política e a Hermenêutica que vêm nos fatos empecilhos à retórica...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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