1. O bom da era da Internet é que você está em casa, mas é como se não estivesse, porque você recebe uma "correspondência" - um e-mail - e, como nos séculos XVIII, XIX e XX, você pode dialogar "à distância", mas muito mais rápido do que então.
2. Recebo um e-mail de Robson Guerra, estudante de Teologia, a um ano e meio da formatura. Para ouvir sua crítica, mandei-lhe artigo em que proponho uma classificação epistemológica para a Teologia, que deverá ser publicado na PUC-PR (se tudo der certo), e ele me dá retorno - que cobrei... A conversa caminha para a afirmação, que teria ouvido, de que "sem revelação não há Teologia". Sem revelação, teria continuado o autor da proposição, há outra coisa, Filosofia da Religião, vá lá, mas, Teologia, não. Bem - se isso fosse verdade, o MEC teria cometido a maior das impropriedades da breve história do Sistema Federal de Ensino brasileiro: pôr "revelação" em seu currículo. Naturalmente, que uma declaração dessas não faz nenhum sentido. Aliás, faz sim, mas não é bem "teológico" o sentido...
3. Ouvi algo parecido de um profesor meu do doutorado, numa discussão num suposto (porque, a rigor, era falso o contexto alegado) contexto antropológico-religioso (mas era exclusivamente criptoteológico o contexto alegado como antropológico [a Teologia inventa coisas para si!], e de, nesse caso, Teologia medieval - porque Barth é medieval): "se o cristianismo não contiver um núcleo proposicional revelado, não é cristianismo". Quanta informação numa só proposição político-programática! Cristianismo não é religião, é "cristianismo", outra categoria qualquer que não as antropológicas [e isso dito em contexto alegadamente... antropológico!], e, além disso, as "verdades" do cristianismo são "verdades divinas". Século XXI isso. E CAPES, heim! Não se pode abrir a guarda - se você relaxa, engrupem sua racionalidade... [depois que o professor disse isso, passei todas as demais aulas, sempre obrigatórias, observando os macacos saltarem nas copas das árvores que se revelam à janela do prédio, na Gávea].
4. "Revelação" é um conceito político. Nada mais do que político. Só perde em essencialidade política para outro conceito, mais inteligente, a "Iluminação". O conceito de "Iluminação"´é muito mais inteligente do que o de "Revelação", porque o conceito de "Revelação" é, em si mesmo, inútil, não serve para absolutamente nada, se houver uma pessoa na sala com mais de três neurônios. Ebeling e Fuchs já nos disseram do que estou falando: Barth defendia uma Teologia da Palavra, que seria a mesma para toda a igreja: uma "doutrina" bíblica positiva, positiva e "revelada", revelação do "Totalmente Outro" - ou seja um embuste, que só tem existência concreta num sistema episcopal, onde cabe ao colégio cardinalício a determinação da doutrina. Num sistema onde se pode e deve pensar, o conceito de "Revelação" não é apenas não-inteligentemente operacional, quanto serve, apenas, para fundamentar cismas fundamentados... nele: todo grupo que "racha" uma comunidade, o faz por força da "Revelação", e lá vão dois grupos a falar em nome de Deus, Deus "revelando", a cada um, uma coisa diferente... Surpreende-me que, cem anos depois de Barth e da Teologia Hermenêutica, a Sistemática ainda repita essas impropriedades...
5. Ebeling e Fuchs sabiam que há, entre a "Palavra" e o "crente", uma mediação interpretativa,, da qual não se pode fugir, e que a afirmação de "uma doutrina" é impossível, já que cada leitor tende a interpretar o texto a partir de sua própria ideologia, seja sua ideologia pessoal, seja a ideologia de seu grupo político-religioso. Não lhes restou senão criar o conceito - político (para "aparar as arestas") - de Teologia Hermenêutica (da mesma forma como hoje vai ficando em voga uma "Teologia Quântica - meu Deus, é um circo!). Ou seja, "Revelação" é meramente uma palavra mágica, para, quando usada, fazer com que se pare de pensar, e se repita o script político-doutrinário da vez. Já a "Iluminação", não: quando se inventou esse conceito, inventou-se um modo de fazer com que, quando o crente "encontrasse" a doutrina ortodoxa no texto, interpretasse esse "encontro" como ato do Espírito Santo... A "Iluminação" dá o "drible da vaca" na crítica hermenêutica da "Revelação", fazendo o Espírito Santo operar não na Palavra, mas na mente do leitor. Logo se vê que há política em tudo, na Teologia, mas há noções que são muito mais inteligentemente políticas do que outras... Deus do céu, a gente ainda trabalha com eses conceitos em pleno século XXI! Isso é política, gente!
6. No século XIX, tudo isso já foi desmontado. Não ficou pedra sobre pedra. É consternador ver acadêmicos manuseando conceitos políticos, anacrônicos, falidos, improcedentes. - "ensinando" Telogia... Que continuem a ser usados no púlpito, isso apenas dá uma idéia do que se faz ali, de como se tratam os homens e as mulheres religiosos. O palavrório que se usa para tagarelar noções de ética, de libertação, de valor humano, na prática, revela-se falso, e cínico, porque, na prática, o que se vê é a manipulação política - como que para o bem - de almas humanas boas e incultas. Fosse na Europa, que púlpito nosso sobreviveria de pé? Já Huxley dizia que a manipulação para o bem é imoral...
7. Quando digo que a Teologia não aprendeu nada, acho que não disse bem alto: A TEOLOIA NÃO APRENDEU NADA. Nem quer. Seus currículos estão repletos de disciplinas científico-humanistas, mas a Teologia é surda como uma porta! É mero instrumento político a presença dessas disciplinas, porque a Teologia lida com elas de modo político, seletivo, fechada, hermeticamnte, em seu casulo mitológico. Recomendo aos estudantes de Teologia: tenham cuidado conosco, seus professores, porque não os amamos o suficiente para libertá-los - amamos mais o que fazemos, e vocês fazem parte do que fazemos... Precavei-vos!
8. Não há lugar para a palavra, o conceito, a política da "Revelação" na Teologia acadêmica. - idem, para "Iluminação". E mesmo um crente de igreja, não necessariamente um seminarista, deveria ser orientado a pensar criticamente esses conceitos - mas essa é outra questão, que deixo passar ao largo. Na academia, no MEC, Teologia é empreendimento humano baseado em tradição e história humana, tradição essa que contém tudo quanto o homem considera "sagrado", porque tudo que o homem considera sagrado é culturalmente construído, seja cânon, sejam deuses, sejam deusas, sejam diabos, sejam diabas, sejam dogmas., sejam princípios Nada, absolutamente nada há que não seja cultural e histórico. Nem "Deus" - que, além de histórico, é político...
9. Logo, uma Teologia-a-partir-da-revelação constitui mito operacional, política programática, de centros de poder - mesmo daqueles que lutam contra poderes maiores! Não luto - nesse momento - pela transformação da religião. Não, ainda. Luto, agora, pela transformação da Teologia. E onde quer que você ouça que a Teologia sem revelação não é Teologia, pode apostar que está diante de outro guerreiro - mas um guerreiro da manutenção do status quo. Faça-se a pergunta: qui prodest? - a quem interessa esse jogo de revelação, e o nome do jogo salta na sua cara...
10. E depois ainda me vêm falar mal de fundamentalistas... Ao menos seu discurso é mais coerente com sua própria prática.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
4. "Revelação" é um conceito político. Nada mais do que político. Só perde em essencialidade política para outro conceito, mais inteligente, a "Iluminação". O conceito de "Iluminação"´é muito mais inteligente do que o de "Revelação", porque o conceito de "Revelação" é, em si mesmo, inútil, não serve para absolutamente nada, se houver uma pessoa na sala com mais de três neurônios. Ebeling e Fuchs já nos disseram do que estou falando: Barth defendia uma Teologia da Palavra, que seria a mesma para toda a igreja: uma "doutrina" bíblica positiva, positiva e "revelada", revelação do "Totalmente Outro" - ou seja um embuste, que só tem existência concreta num sistema episcopal, onde cabe ao colégio cardinalício a determinação da doutrina. Num sistema onde se pode e deve pensar, o conceito de "Revelação" não é apenas não-inteligentemente operacional, quanto serve, apenas, para fundamentar cismas fundamentados... nele: todo grupo que "racha" uma comunidade, o faz por força da "Revelação", e lá vão dois grupos a falar em nome de Deus, Deus "revelando", a cada um, uma coisa diferente... Surpreende-me que, cem anos depois de Barth e da Teologia Hermenêutica, a Sistemática ainda repita essas impropriedades...
5. Ebeling e Fuchs sabiam que há, entre a "Palavra" e o "crente", uma mediação interpretativa,, da qual não se pode fugir, e que a afirmação de "uma doutrina" é impossível, já que cada leitor tende a interpretar o texto a partir de sua própria ideologia, seja sua ideologia pessoal, seja a ideologia de seu grupo político-religioso. Não lhes restou senão criar o conceito - político (para "aparar as arestas") - de Teologia Hermenêutica (da mesma forma como hoje vai ficando em voga uma "Teologia Quântica - meu Deus, é um circo!). Ou seja, "Revelação" é meramente uma palavra mágica, para, quando usada, fazer com que se pare de pensar, e se repita o script político-doutrinário da vez. Já a "Iluminação", não: quando se inventou esse conceito, inventou-se um modo de fazer com que, quando o crente "encontrasse" a doutrina ortodoxa no texto, interpretasse esse "encontro" como ato do Espírito Santo... A "Iluminação" dá o "drible da vaca" na crítica hermenêutica da "Revelação", fazendo o Espírito Santo operar não na Palavra, mas na mente do leitor. Logo se vê que há política em tudo, na Teologia, mas há noções que são muito mais inteligentemente políticas do que outras... Deus do céu, a gente ainda trabalha com eses conceitos em pleno século XXI! Isso é política, gente!
6. No século XIX, tudo isso já foi desmontado. Não ficou pedra sobre pedra. É consternador ver acadêmicos manuseando conceitos políticos, anacrônicos, falidos, improcedentes. - "ensinando" Telogia... Que continuem a ser usados no púlpito, isso apenas dá uma idéia do que se faz ali, de como se tratam os homens e as mulheres religiosos. O palavrório que se usa para tagarelar noções de ética, de libertação, de valor humano, na prática, revela-se falso, e cínico, porque, na prática, o que se vê é a manipulação política - como que para o bem - de almas humanas boas e incultas. Fosse na Europa, que púlpito nosso sobreviveria de pé? Já Huxley dizia que a manipulação para o bem é imoral...
7. Quando digo que a Teologia não aprendeu nada, acho que não disse bem alto: A TEOLOIA NÃO APRENDEU NADA. Nem quer. Seus currículos estão repletos de disciplinas científico-humanistas, mas a Teologia é surda como uma porta! É mero instrumento político a presença dessas disciplinas, porque a Teologia lida com elas de modo político, seletivo, fechada, hermeticamnte, em seu casulo mitológico. Recomendo aos estudantes de Teologia: tenham cuidado conosco, seus professores, porque não os amamos o suficiente para libertá-los - amamos mais o que fazemos, e vocês fazem parte do que fazemos... Precavei-vos!
8. Não há lugar para a palavra, o conceito, a política da "Revelação" na Teologia acadêmica. - idem, para "Iluminação". E mesmo um crente de igreja, não necessariamente um seminarista, deveria ser orientado a pensar criticamente esses conceitos - mas essa é outra questão, que deixo passar ao largo. Na academia, no MEC, Teologia é empreendimento humano baseado em tradição e história humana, tradição essa que contém tudo quanto o homem considera "sagrado", porque tudo que o homem considera sagrado é culturalmente construído, seja cânon, sejam deuses, sejam deusas, sejam diabos, sejam diabas, sejam dogmas., sejam princípios Nada, absolutamente nada há que não seja cultural e histórico. Nem "Deus" - que, além de histórico, é político...
9. Logo, uma Teologia-a-partir-da-revelação constitui mito operacional, política programática, de centros de poder - mesmo daqueles que lutam contra poderes maiores! Não luto - nesse momento - pela transformação da religião. Não, ainda. Luto, agora, pela transformação da Teologia. E onde quer que você ouça que a Teologia sem revelação não é Teologia, pode apostar que está diante de outro guerreiro - mas um guerreiro da manutenção do status quo. Faça-se a pergunta: qui prodest? - a quem interessa esse jogo de revelação, e o nome do jogo salta na sua cara...
10. E depois ainda me vêm falar mal de fundamentalistas... Ao menos seu discurso é mais coerente com sua própria prática.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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