1. No prefácio de Ecce Homo, Nietzsche escreveu – “a desproporção entre a grandeza de minha alma e a PEQUENEZ dos meus contemporâneos se evidenciou no fato de que não fui ouvido, nem sequer compreendido” (1). E, na condição de “moldura” de sua obra, a última frase de seu livro reza: “fui por acaso compreendido”? (2). Era outubro de 1888. Mais dois meses e meio, e Nietzsche conheceria a loucura, que lhe tomará abruptamente, numa rua de Turim. Não ter sido compreendido foi sua última dor consciente...
2. O século XX vangloriou-se de tê-lo compreendido. De Heidegger a Vattimo, a filosofia enovelou o filósofo numa aura não-fundacional e anti ou a-histórica, ao gosto de uma cada vez mais impalpável pós-modernidade – Nietzsche não teria sido apenas o assassino de Deus, mas o assassino da razão, da crítica, do próprio conhecimento – Nietzsche, o pai das almofadas de penas de ganso...
3. Bem, quanto aos seus contemporâneos, Nietzsche fez questão de nos dizer, estamos seguros de que não o entenderam. Terão os filósofos da Imaterialidade, da Linguagem, da Tradição, da Metáfora, incorporado a alma do filósofo, depois que seu corpo entregou-se à loucura?
4. Eu duvido. Em todo caso, aguardo a leitura ansiosa de Domenico Losurdo, Nietzsche, Il ribelle aristocrático (3). Losurdo é categórico em dizer que o século XX inventou outro Nietzsche, mais ou menos, como digo eu, judeus e cristãos inventaram outro Jó – que Jack Miles ajuda a reconstituir. Mais um pouco e desespero de agonia, e encomendo em italiano mesmo as mil e duzentas páginas dessa monumental reconstrução do meu filósofo predileto.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
(1) F. Nietzsche, Ecce Homo – como cheguei a ser o que sou. 4 ed. São Paulo: Brasil Editora, s/d (© de 1959), p. 15.
(2) Idem, p. 203.
(3) Domenico LOSURDO, Nietzsche, il ribelle aristocratico. Biografia intellettuale e bilancio critico. Turim: Bollati Boringhieri, 2002.
2. O século XX vangloriou-se de tê-lo compreendido. De Heidegger a Vattimo, a filosofia enovelou o filósofo numa aura não-fundacional e anti ou a-histórica, ao gosto de uma cada vez mais impalpável pós-modernidade – Nietzsche não teria sido apenas o assassino de Deus, mas o assassino da razão, da crítica, do próprio conhecimento – Nietzsche, o pai das almofadas de penas de ganso...
3. Bem, quanto aos seus contemporâneos, Nietzsche fez questão de nos dizer, estamos seguros de que não o entenderam. Terão os filósofos da Imaterialidade, da Linguagem, da Tradição, da Metáfora, incorporado a alma do filósofo, depois que seu corpo entregou-se à loucura?
4. Eu duvido. Em todo caso, aguardo a leitura ansiosa de Domenico Losurdo, Nietzsche, Il ribelle aristocrático (3). Losurdo é categórico em dizer que o século XX inventou outro Nietzsche, mais ou menos, como digo eu, judeus e cristãos inventaram outro Jó – que Jack Miles ajuda a reconstituir. Mais um pouco e desespero de agonia, e encomendo em italiano mesmo as mil e duzentas páginas dessa monumental reconstrução do meu filósofo predileto.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
(1) F. Nietzsche, Ecce Homo – como cheguei a ser o que sou. 4 ed. São Paulo: Brasil Editora, s/d (© de 1959), p. 15.
(2) Idem, p. 203.
(3) Domenico LOSURDO, Nietzsche, il ribelle aristocratico. Biografia intellettuale e bilancio critico. Turim: Bollati Boringhieri, 2002.
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