domingo, 12 de julho de 2009

(2009/390) De a vida ser os vivos


1. A vida é, finalmente, isso em que ela se tornou. E, no entanto, o seu sentido, o seu significado, está na sua história, em seu começo, em suas transformações. Se não dispomos desse começo, dessas transformações, dessa história, chegamos mesmo a inventar um sentido, uma significação para a vida.

2. Começou a vida como projeto? Não? Como acaso? Já essa é uma questão importante, porque daí derivaria saber – investigar, senhores, investigar – se o projeto logrou êxito, ou se a vida é, tal qual ela se tornou, um ovo gorado... Ao contrário, a vida não é projeto, é acaso e acontecimento. Nesse caso, nesse preciso caso, senhores, não há critério externo à vida para com isso se analisar a vida. E, enquanto elementos internos da vida, também nos encontramos em situação muito precária para a tarefa de dar a significação precisa disso. Talvez eu possa dar, quero dizer, criar, um sentido para minha vida... mas, para a vida... será?

3. Ainda outra abordagem: a vida nasceu como uma coisa, uma exclusiva coisa, e isso no sentido de que a vida, aí, é sinônimo de um sujeito vivo, de que a vida, aí, não conhece o que seja comunidade? Ou, ao contrário, a vida surge como tribo, como civilização, como coletividade associativa?

4. Se a vida surge como subjetiva, individual, inegável é reconhecer que, contudo, tornou-se civilizacional. Certo é que grande parte da vida permanece no nível que se poderia chamar de unicelular, logo, subjetivo, extremamente subjetivo. Contudo, a extraordinária complexidade e multiformalidade da vida explodiu em comunidades vivas, órgãos, sistemas, corpos, comunidades, bandos, enxames, alcatéias, manadas, cardumes, correições...

5. Não é apenas que o corpo, em si, já seja, ele mesmo, uma coletividade... quantas bactérias e células primitivas não entraram, aí, em associação para, assim, resultarem no corpo? Se as mitocôndrias, como se quer, são, por si mesmas, emergências vivas independentes, mas em associação fisiológica com o organismo – o qual surge em decorrência justamente dessa associação-, ora, isso é um fenômeno interno à vida: a vida tanto tende à individualidade, quanto à coletividade. Não há roteiro. Há acontecimentos determinantes e determinativos.

6. Logo, não há como se afirmar, a priori – e, nesse caso, platonicamente! – que o altruísmo seja melhor ou pior do que o egoísmo, porque a vida, essa mesma que acabamos de analisar muito brevemente, funciona por mecanismos uma vez egoístas, outra vez, altruístas, e, em ambos casos, sempre, a favor de si. Egoísmo e altruísmo são ferramentas da vida, dos sujeitos vivos. Aqui e agora, é difícil determinar a correta dose de um e de outro – mas, seja como for, qualquer que seja a dose, a vida seguirá seu rumo de transformações. E tais transformações decorrem de nossas arbitrariedades, de nossos juízos, de nossas ações. Porque a vida são os vivos.


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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