Acho que o destino de todo intelectual de esquerda engajado é ser tomado de algum tipo de síndrome de messias. O povo não tem a cabeça de um intelectual orgânico de esquerda: na prática, o que o povo queria é tornar-se burguesia e o que a burguesia queria era se tornar elite. A conta não fecha, porque o intelectual tem outra perspectiva, outra utopia. Assim, a despeito de ele se considerar representante do povo, ele pensa com um tipo de mundo na cabeça, e cuida representar um povo que tem outro tipo de mundo na cabeça.
E é por isso que, em mundos democráticos, esquerda e direita se revesam no poder, pelo voto. O povo até quer algumas coisas que a esquerda anuncia. Mas quer também muitas, muitas coisas que anuncia a direita.
Se você é realmente democrático, acostuma-se a isso.
Se, todavia, no fundo é um cristão messiânico secularizado, prepare-se para ter dores de cabeça eternas.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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