À medida que a História avança, há um refinamento, um aperfeiçoamento teórico, digamos, das estruturas políticos-sociais. Se esse refinamento teórico se desdobra na prática não vem aqui ao caso.
Tolerava-se poligamia. Hoje, não.
Tolerava-se escravidão. Hoje, não.
Tolerava-se pedofilia. Hoje, não.
Tolerava-se misoginia. Hoje, não.
Tolerava-se a prática anti-ética cristã de tratar todas as outras religiões como inferiores. Hoje, ainda...
Como, hoje ainda?
Desminta-me.
Mas eu não tenho dúvidas de que, amanhã, todo cristão será considerado, nesse sentido, um criminoso. Ele, o cristão, e todo religioso monoteísta que tratar a religião dos outros como inferior.
Não sei quanto tempo isso vai levar, mas não duvido que ocorrerá.
Os cristianismos, então, vão se transformar, porque eu duvido que acabem. Não sei qual comportamento anti-ético sobreviverá: o expurgo não será total. Mas essa atitude anti-ética fundamental de tratar as religiões alheias como inferiores, essa será condenada e jogada na lata do lixo da História.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
2 comentários:
O motivo pelo qual considerar outras religiões como inferiores não será (eu creio) criminalizada tão cedo porque a percepção que as pessoas tem de sua própria religião é mais ou menos a mesma que todos tem da maneira em que dirigem seus carros: eu dirijo bem, todo mundo que dirige mais rapidamente que eu é um maníaco, todo mundo que dirige mais lentamente é uma tartaruga. Na religião isso se traduz como: eu não sou um extremista, eu sou um crente fiel. Todo mundo mais radical do que eu é um extremista, todo mundo menos radical é um liberal, etc.
Curioso ler um texto que simultaneamente condena e perfeitamente exemplifica o sentimento de superioridade em relação a outras experiências religiosas, o "comportamento anti-ético" que precisa ser "expurgado" e lançado na "lata do lixo da História" (encantador esse uso repetido de História-com-H-maiúsculo).
Mas como eu dizia, é improvável que tal lei seja aprovada. O que significa que todos saem ganhando! Se não haverá uma lei proibindo os preconceitos de burraldos ignorantes, também não haverá uma lei contra sabichões superiores. E cada um pode continuar menosprezando o próximo da maneira que melhor lhe apraz.
A ironia é quase refinada, mas a leitura, não. Fosse deixada a ironia apenas para a redação, a fosse a leitura feita atentamente, veria o equívoco que é falar de superioridade em relação a "outras experiências religiosas". Aqui, perdeu-se toda a leitura...
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