“DESCEU, NÃO – FOI EXPULSO!”
– ESBOÇO DE PESQUISA SOBRE A SUBSTITUIÇÃO DO MITO FUNDANTE DA ORIGEM DO DIABO E DE SUA RESPECTIVA BASE ‘ESCRITURÍSTICA’ NA TRADIÇÃO CRISTÔ
Osvaldo Luiz Ribeiro - Faculdade Unida de Vitória - osvaldo@faculdadeunida.com.br
Resumo
A partir do século V e por direta influência persa, os judaítas deixaram de instrumentalizar sócio-teologicamente o mito de um deus (ao mesmo tempo) bom e mau e admitiram a ideia (persa) de um deus unicamente bom. Uma vez que se encaminhava essa tradição religiosa para a monolatria, instalou-se a necessidade de explicar-se, então, de onde viera o mal. Com base em Gênesis 6,1-4, compôs-se uma narrativa mítica fundante para explicar a questão do mal no mundo pela presença, nele, dos mensageiros divinos que, encantados com as mulheres que o deus criara, teriam descido dos céus em busca de relações sexuais, ação castigada, no mito, com o impedimento do seu retorno e sua conseqüente permanência entre os homens, que passaram a oprimir. Essa tradição é mantida até o Novo Testamento, explicitada, por exemplo, em Judas. Em 2 Pd 2, todavia, há evidência de uma possível tentativa de erasio memoriae dessa versão do mito. É possível que a substituição do mito e, mais tarde, o estabelecimento de uma nova base escriturística para o mal (Ezequiel 28) tenham decorrido dos efeitos teológico-litúrgicos da doutrina nas primeiras comunidades cristãs (gregas?) que, em decorrência de hermenêuticas, conceitos e práticas consideradas desviantes pela ortodoxia incipiente, foram expurgadas da corrente cristã tradicional, talvez já no final do primeiro século. Há que: a) confirmar-se a hipótese de trabalho e b) descobrir qual teria sido o primeiro caso de citação de Ezequiel 28 como referência à origem de “Satanás”.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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