Há muitos textos assim - seu conteúdo é apenas ele mesmo, ele, o texto, na sua narcisística expressão de ser e nada além dele...São como vórtices de pia,a sugar para si - e apenas para si - tudo que puderem...
[VEREIS QUE O POEMA CRESCE INDEPENDENTE]
(Jorge de Lima)
(De Livro de Sonetos (1949)
Vereis que o poema cresce independente
e tirânico. Ó irmãos, banhistas, brisas,
algas e peixes lívidos sem dentes,
veleiros mortos, coisas imprecisas,
coisas neutras de aspecto suficiente
a evocar afogados, Lúcias, Isas,
Celidônias... Parai sombras e gentes!
Que este poema é poema sem balizas.
Mas que venham de vós perplexidades
entre as noites e os dias, entre as vagas
e as pedras, entre o sonho e a verdade, entre...
Qualquer poema é talvez essas metades:
essas indecisões das coisas vagas
que isso tudo lhe nutre sangue e ventre.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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