terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

(2014/022) Podem, honestamente, os cristianismos empregarem a palavra "ética"?

Para encerrar, uma provocação ainda mais grave.

Os cristianismos caíram numa armadilha da qual não poderão sair. Penso que não há saída possível...

No mundo moderno, a partir de meados do século XIX, com o advento do discurso democrático, do discurso do direito, a palavra ética tornou-se valor ocidental. O conteúdo da ética assumiu - pela primeira vez na história! - contornos infinitamente superiores aos das religiões, a despeito do louvaminhas que lhes dirigem. A ética ocidental moderna, em seu conteúdo discursivo, é irrestrita.

Os cristianismos históricos faziam-se de bons, de éticos, ao mesmo tempo em que reduziam as mulheres a objetos de cama e mesa, os negros a condição de bestas de carga sem almas, os gays a abominações do diabo, as outras religiões a obras de Satanás. Tudo boa gente...

Mas, como eu disse, a ética se tornou um valor público - e, além dos liberais, ela também tem de usar o termo. E não pode. Tudo o que é ético lhe foi arrancado por terceiros. Dependesse dela, ainda haveria escravos, as mulheres seriam vaginas e mãos de lavar louça e nada mais - a depender dela, os gays permanecerão abomináveis...

Os cristianismos estão presos na obrigação de, publicamente, dizerem que são éticos - mas não são. Não é culpa apenas do cristão em si, a culpa é do sistema inteiro, da estrutura discursiva toda, sem exceções que eu conheça.

Lamento muito que seja assim. Mas amo mais meus olhos do que o falso discurso que construímos para fazer de nós o que nunca fomos: o pouco de educação que adquirimos, forçaram-nos a tanto...








OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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