quinta-feira, 31 de outubro de 2013

(2013/1278) Eu bem podia comemorar o Dia das Bruxas...

Eu comemoraria (mas não sou dado mais a essas comemorações) tranquilamente o Dia das Bruxas... E eu poderia fazer isso domesticamente, se eu puder tratar as mulheres judias da Bíblia Hebraica como irmãs minhas. E acho que posso.

Elas podem ser consideradas bruxas, se você quiser.

Explico.

Quando os judeus se tornaram cada vez mais fechados, sectaristas, sacerdotais e, então, trancaram Yahweh dentro do Templo, passaram a interditar a religião popular - inclusive e enfaticamente, a feminina.

Num dos episódios, escreveram o Livro de Enoque, importantíssimo para a fé cristã, a despeito de demonizado. Tudo o que você julga saber sobre diabo, anjos, fim do mundo, essas coisas mitológicas, mas profundamente arraigadas na consciência, está lá.

Pois bem. Em Enoque, criou-se a história da origem do mau/mal. Mensageiros celestes desceram à terra, tiveram relações com as mulheres e Deus não os deixou voltar ao céu, condenando-os. Eles, então, ensinaram às judias as poções...

Poções...

As judias faziam poções. Insinua-se - mais do que isso! - a história no caso das mandrágoras de Rubem, que ele dá à mãe, que, por meio delas, deitando-se com Jacó, concebe Issacar...

Mandrágoras.

Em Cântico dos Cânticos, uma fogosa amada chama seu amado para sentir o cheiro das mandrágoras - lá, ela diz, eu te darei o meu amor...

Judias. Poções.

Bruxas, não?

Os judeus machos do Templo e, não duvido, das sinagogas, ciosos de sua ortodoxia (de araque), demonizaram-nas: poções é coisa do diabo, eles diziam...

Elas, rindo deles, retrucaram: só se Leia for um diabo, seus tontos, porque poções de mandrágoras a Mãe de Israel já fazia...

Furiosos, eu acho, eles redigiram, eu sei, outro livro, dessa vez, o Testamento dos 12 Patriarcas, e disseram que não eram mandrágoras, mas tomates, e tentam apagar a memória de Leia, a preparadora de poções de mandrágoras, a mãe-bruxa das judias...

Bruxa mãe. Erasio memoriae...

Adiantou?

Não.

2.500 anos depois, eu sei.

Poderia comemorar o Dia das Bruxas. O dia de Leia. O dia das judias. O dia da amada, de Cântico dos Cânticos. A festa das mandrágoras...

Aliás, lá em casa há uma herdeira das tradições antigas...

O nome dela é impronunciável, na língua das irmãs...

Mas podem chamá-la de Bel...

Dia das Bruxas...

É o que há.

O resto são marmanjos empoderados a pôr o dedo na cara dos outros.

Ontem, todavia, eram assassinos.






OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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