Aqui está a religião que me resta. Com religião, quero me referir à mística - que não se trata de liturgia sob as estrelas. Não quero uma Teologia que passe ao largo disso, ou que salte sobre isso, atrás de especulações que só fazem re-encenar as doutrinas dogmáticas, disfarçadas que sejam em neo-humanismo-espiritual, essa caricatura de fé e de lucidez, que, a meus olhos, aparece como escárnio...
Olhar para o céu estrelado e ver nele a fábrica não-intencional desde onde nasceu cada átomo que nos compõe: um relance infinitamente pequeno na eternidade do tempo, uma chance irrepetível de ver, chorar e morrer.
Isaac Asimov escreveu um conto de ficção em que, como parte do enredo, o personagem se deixa submeter a um procedimento "cirúrgico" por meio do qual poderia ver o que determinada espécie extraterrestre via - uma visão beatífica do Universo, inimaginável aos olhos rudimentares de um humano. O preço terrível é que ele veria apenas uma vez - e nunca mais. A condenação foi, depois da visão indescritível, voltar à cegueira humana...
Eu diria que a vida é assim: nascemos, recebemos um instante de lucidez, e nossa luz se apagará - retornaremos aos átomos que éramos, e seremos tragados, insensivelmente, sem memória e sem identidade, ao caminho inescrutável dos trilhões de pedaços que somos...
Neil deGrasse Tyson
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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