terça-feira, 4 de junho de 2013

(2013/565) Teologia Negativa e suas co-irmãs - trabalho feito pela metade


1. O teólogo clássico julga saber tudo ou quase tudo sobre Deus. Se ele é barthiano, ele afirma, categoricamente, que a única forma de ter acesso a Deus é a forma positiva, doutrinária. Se ele é liberal, ele afirma que a única forma é pela experiência subjetiva. Deus está lá, para as duas correntes "modernas" da velha e embolorada teologia.

2. Os mais epistemologicamente constrangidos, saltam de banda e abraçam a Teologia Negativa. Aqui, emprego o termo como referência a toda teologia que, constrangida pela modernidade, pelas Ciências Humanas, por duas doses e meias de um conhaque de bom senso, reconhecem que nada que dizem sobre Deus pode, de fato, ser alguma coisa sobre Deus e que, continuam o raciocínio, Deus mesmo só está no silêncio e na suspensão de todo discurso e de toda sensação sobre ele.

3. Uma das formas de assumir essa aparente "revolução" teológica é a fórmula de Tillich - Deus é símbolo para Deus. Aí, a fala que o homem faz sobre Deus é assumida como simbólica, e quem a leva ao pé da letra é dado como idólatra pelo filósofo das Américas...

4. O raciocínio é: Deus é de tal forma sublime que não é possível ao homem concebê-lo, de tal forma que tudo que o homem fale sobre ele é invenção. Nas formas mais moderadas dessa teologia negativa, assume-se que o homem sabe apenas uma fração de Deus, e que todo o mais é pecado de pretensão... As formas mais radicais não guardam nem a fração: o homem não pode saber nada sobre Deus, porque ele é muito grande, ao passo que nós, muito pequenos...

5. Aparentemente, muito moderno...

6. Todavia...

7. Ora, se não se pode saber nada sobre Deus, se não se pode falar sobre ele, de onde vem, então, a informação de que ele está lá?

8. É falaciosa essa teologia. Ela é, no fundo, a mística monasterial do silêncio, encobrindo em nuvens de não-falar o velho Deus cristão, que permanece protegido, assim, das críticas, inclusive, e os velhos teólogos passam, à geração seguinte, a mesma bandeira do divino...

9. O teólogo negativo fica a dever a explicação de como ele sabe que é Deus, como ele sabe que ele existe, como ele sabe que ele é sublime, como ele sabe que ele é ele, como ele sabe que ele é único, como ele sabe que ele é bom, que salva, que faz e acontece - se não pode saber nada sobre ele...

10. Ou pode, e apenas finge que não?

11. Se pode, deixe de ser falso e assuma loga a barthiana condição da fé positiva.

12. Se não pode, deixe de ser covarde e assuma definitivamente que não é que não sabe alguma coisa sobre Deus - não sabe mesmo é sequer se há um.

13. Decida-se. Deixe de infantilidades teológicas. Amadureça. Ou volte para o útero de Deus - bem sabido: a doutrina.




OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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