terça-feira, 14 de maio de 2013

(2013/526) Gostar de gente é coisa de pastor?


1. Volta e meia digo que não me tornei pastor porque não gosto o suficiente de gente para isso - para mim, pastor só serve se gosta de gente e se trata delas. Pastor que é funcionário de Instituição, servo de Deus, pregador ou administrador, não me apetece: gosto de pensar neles como gente que gosta de cuidar de gente - todo o resto é irrelevante.

2. Alguém me diz que faço bem, porque, ser pastor exige mesmo gostar de gente...

3. Olho para a pessoa, com o cenho franzido...

4. _ Do que você está falando?

5. _ Do que você falou, de que não é pastor porque não gosta suficientemente de gente...

6. _ E o que isso tem a ver com os pastores?

7. _ Que gostam de gente, ora...

8. _ Não me faças perder meu tempo! O que menos parece haver são pastores que gostam de gente. Gostam de Deus, de pregar, de administrar, de "tomar conta" da vida dos outros, de apontar o dedo divino, de encabrestar, de adestrar, de experimentar a síndrome do divino - mas o que parece menos haver é pastor que de fato goste de gente. Quem gosta de gente não manipula, não mente, não trafica, não dissimula, não encena, não enrola. Quem gosta de gente não prende, não castra, não fere, não desgasta. Quem gosta de gente cuida, liberta, revela. Quem gosta de gente torna-se inútil, posto que ajudou a parir de si mesma aquela alma ainda não nascida... Quando digo que não sou pastor porque não gosto suficientemente de gente o que menos tenho em mente ao dizê-lo é o ministério pastoral que grassa pelos campos brancos do Senhor - é a mera utopia: não sou bom o bastante nem gosto o suficientemente de gente tanto quanto pede minha utopia. Mas, para o modelo que aí está, faria bem feitinho...





OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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