domingo, 31 de março de 2013

(2013/375) Jesus, Hermes, Asclépio, Perseu, Dionísio - Justino sabe das coisas: da metade delas, você também...


1. O dia de comemorar a tradição cristã faz o Cristianismo entrar em festa. Eu compreendo. Podia, mesmo, ser ocasião de festa e alegria... E é, para tantos, para quase todos...

2. Mas eu não faço festa. Fico, apenas, pensando, refletindo...

3. É que seu sei de coisas...

4. Quando você sabe de coisas, vê as mesmas coisas que todo mundo vê, mas com outros olhos.

5. Por exemplo, fui à estante e peguei meu volume de Justino, um dos primeiros teólogos da Igreja. Em Apologias I, ele tenta convencer Roma de que a religião cristã merece um voto de confiança. No parágrafo 21, ele trata dos deuses greco-romanos que tiveram as mesmas experiências que Jesus - que eram Filhos de Deus, que ressuscitaram, que subiram ao céu. E enumera-os...

6. Fala do Verbo dos Verbos, Hermes (aliás, a palavra Hermenêutica deriva do nome desse sublime  Deus), fala de Asclépio, hoje, símbolo da medicina, um curador como Jesus teria sido, e que sobe aos céus igual a ele. Fala de Dionísio, esquartejado e assunto aos céus. Fala de Héracles, dos Dióscoros, de Perseu...

7. Justino faz Roma ver que não há nenhuma novidade no que os cristãos pregam e proclamam: tudo que ensinam de seu Jesus, os romanos e os gregos já haviam ensinado dos seus...

8. Justino emprega de retórica... Como Paulo, no areópago, apontando o lugar do "Deus Desconhecido" e projetando sobre ele o seu próprio Deus, Justino aponta os deuses gregos e romanos, suas histórias iguais às de Jesus, mas, ele sabe, no caso deles, são demônios, mas não no seu.

9. Cedo demais, os cristãos esqueceram a lei evangélica: agir com os outros como gostariam que agissem com eles. Muito cedo, aprenderam a tratar seus mitos, que copiaram deles, como verdadeiros, e os deles, de quem copiaram, falsos.

10. Acharia mais honesto considerar tudo verdadeiro ou tudo falso...

11. Mas quando, depois de copiarmos tudo deles, tratamos a eles como a enganados do diabo, e a nós, que copiamos tudo deles, como santos de Deus, isso só pode indicar algum desequilíbrio ético muito grave, que dura, aliás, até hoje...

12. Por isso, quando todos se alegram, eu fico triste. Porque a alegria se dá sobre a insensibilidade e a redução do outro a nada, a objeto de conquista e a enganados do diabo.

13. Não posso compactuar com essa alegria.





OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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