1. Europeu, Vattimo escreveu: "a religião é experimentada como um retorno. É o restabelecimento presente de algo que acreditávamos ter esquecido definitivamente, a reativação de um vestígio adormecido" (O Vestígio do Vestígio, em A Religião, p. 91).
2. Vattimo, europeu. Vá lá...
3. Mas aí, o estudante e o pesquisador brasileiros leem isso. Deslumbram-se. E saem re-escrevendo isso como fato universal. O retorno das religião!, eles bradam em artigos e palestras, o retorno da religião! Você é obrigado a ouvir a coisa por duas horas - a repetição interminavelmente enfadonha de argumentos desprovidos de qualquer fundamento - exceto lá, em algum gueto intelectualizado europeu...
4. Esse texto de Vattimo não se presta para uma análise da religião no mundo - serve apenas para aproximações antropológicas a certo recorte da cultura europeia. Mas, da religião mesmo, pensada como fenômeno mundial no século XX, não tem qualquer valor. Nem mesmo se o restringirmos ao Ocidente cristão e mesmo se pensarmos na "modernidade secularizada"...
5. A religião não desapareceu dia algum no Brasil, na América do Sul, na América Central, na América do Norte, na África, na Ásia (nem na China comunista!), na Oceania. Nunca - não se passou meia hora em nenhum desses lugares sem que um milhão de religiosos não entrassem em êxtase, sem que dez mil livros de mística fossem escritos, sem que cem milhões de templos não tivessem velas acendidas...
6. A maior "barriga" das Ciências da Religião foi ter engolido a tese do desencantamento do mundo e de seu re-encantamento. Não houve desencantamento algum, salvo, obviamente, em alguns guetos europeus de alta intelectualidade e em algumas expressões locais, aqui e ali, derivadas desse gueto. Nos outros lugares, exus convivem com tratores, kamis com iPhones e Deus com aceleradores de partículas.
7. A religião não voltou, senhores. Ela nunca deixou o planeta.
8. E, se ainda não nos demos conta - a Europa não é o planeta...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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