quarta-feira, 6 de março de 2013

(2013/205) De certo uso da hermenêutica


1. Cada um entende de um jeito diferente, diz-me, o cavalheiro. O homem diz uma coisa e seu ouvinte entende outra e, se dois ouvintes houver, cada qual entende de seu modo...

2. Entendo o que você me diz... Mas como você, meu bom cavalheiro, pode se dar conta de que cada um entendeu diferente? Por meio de seu raciocínio, não posso imaginar que é o senhor quem os entende de seu jeito? E mesmo eu agora, não me impeço de entendê-lo? E o senhor, não se impede de fazer-se entender?

3. Moral da história: o uso da distorção das interpretações para inferir que só há distorção de interpretações é, ela mesma, a distorção de uma interpretação: fosse ela verdade, ninguém poderia afirmar que cada um entende de um jeito, porque ninguém poderia falar senão de si mesmo...

4. Sim, há interpretações diferentes, divergentes, dissonantes. O que não implica, necessariamente, em que não haja interpretações adequadas - e nisso crê tanto o bom cavalheiro que ele acredita, mesmo, que eu vá entender o que ele está a me dizer - e, até, vejam vocês, escreve artigos...





OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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