1. Eu não tenho um problema com metáforas enquanto metáforas - uso-as o tempo todo.
2. Tenho, todavia, problemas com o uso que se pode fazer delas.
3. Por exemplo: desviar a atenção do real, que deve estar por trás de qualquer discussão acadêmica, tornando-o opaco por meio de metáforas.
4. Por exemplo, toma-se uma declaração que é necessariamente metafórica e, quando você revela que ela é incoerente, justifica-se sua condição alegando-se que se trata de metáfora... Ora: ser metáfora não significa que possa ser incoerente...
5. Assim, meu problema é quando percebo que a palavra metáfora serve para desviar o foco da discussão, para ocultar o real, para encerrar um caso...
6. Nesse caso, tanto a metáfora quanto a declaração devem ser desmontadas, desconstruídas: não se pratica desconstrutivismo com metáforas!
7. Outro caso de metáfora que me aborrece muito é aplicar-se à teologia o condão retórico de metáfora, mas continuar-se a brincar da mesma brincadeira que João, que acha que é revelação positiva, brinca...
8. Diversionismo...
9. Afora o uso político-retórico da metáfora, do que descrevi dois casos, há aquele uso meramente equivocado, mas não político, apenas equívoco, quando se substitui a realidade pela metáfora: trata-se do vício idealista que, de tão apaixonado pela linguagem, substitui o mundo que ela tenta representar por ela mesma, troca o real pelo discurso do real, troca a realidade física e histórica por narrativas.
10. Mas esse é outro caso.
11. No mais, correndo o risco de estar equivocado, sempre, metáforas são operações da mente para lidar com o real - real esse que, em alguns níveis, é tão "indizível" que precisa, para ser trazido à tona, do uso profundo de metáforas.
12. De modo que, se o real some sob elas, não me interesso mais por elas, porque não me encanto por elas, encanto-me pelo real...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
Nenhum comentário:
Postar um comentário