
1. Quando explodiu a Revolução Islâmica, no final da década de 70, Foucault louvou a revolução. Devemos dar a ele o desconto da dupla hipnose: a) a distância, confundida pelo princípio do prazer, quando trocamos a realidade pelo nosso sonho de realidade, e b) a reserva incontida contra a modernidade que grassa em camadas da Filosofia - "agora o mundo moderno aprenderá como se conciliar razão e fé numa sociedade livre dos males do Ocidente" - e caiu na cabeça dele, com o peso do martelo de Thor, calculado em 300 trilhões de manadas de elefantes - se não me trai a memória, sua utopia neo-mística...
2. Já se foi até à Índia buscar solução para os males do Ocidente... banhar-se em águas poluídas, provavelmente e alimentar castas, que só com muita dificuldade a República - sim!, a Índia é uma República! - vai tentando debelar...
3. Mas há outro caso: Gandhi... Ah, o que Losurdo não fez... Gandhi louvou Mussolini. Devemos dar a ele o mesmo desconto que damos a Foucault. Mussolini pregava os valores do campo! Ah, que boa alma aquela, que bom projeto, que bons valores - o campo, e não essa engenhoca moderna...
4. Pobre Gandhi...
5. Há alguma coisa no olhar que faz com que se interpretem os males do presente, do mundo moderno, como males dele, inventados por ele - e não se percebe que todos os seus males já estavam aí, antes dele, e que ele os vai tentando debelar, a despeito de sua herança, de sua superestrutura religiosa de fundo, de seus atores...
6. Não se trata de um louvaminhas ao moderno, como se fosse um céu.
7. Trata-se apenas de denunciar uma patologia ótica - a transferência de todos os males herdados pelo mundo moderno dos mundos antigos, inclusive religiosos, para o próprio mundo moderno, como que se inventados por ele e filhos dele...
8. Definitivamente, estamos diante de um grande equívoco.
9. O mundo moderno tem possibilidades de aperfeiçoar seus mecanismos e mesmo seus valores - mas a saudade dos mundos antigos sobrevive na invenção de um mundo que nunca houve, porque, lá, imperava a exceção das liberdades, a submissão da mulher, o aviltamento dos pobres, o obscurantismo teológico-teocrático, a escravidão institucionalizada (desejá-lo é ou uma ingenuidade ou uma adesão ao seu projeto).
10. Algumas dessas mazelas permanecem... Mas vejam: permanecem. Herança dos dias de Deus.
11. Para os créditos, cf. Domenico Losurdo, A não-violência - uma história fora do mito.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
Um comentário:
É bobagem dizer que Foucault seja "contra a modernidade"...primeiro um dado, ele se assumiu neo-kantiano, continuador então da crítica iluminista kantiana...o que de fato confere... quem o estudou, soube.
Depois, um argumento obvio; se a Modernidade é o movimento histórico de Crítica ao império da tradição e construção de novas imagens do Pensamento, o aceleramento da crítica que analisa seus próprio fundamentos no mínimo seria derivada daquela, nada disso de retorno a idade média e a religião! é mais um aceleramento da modernidade do que uma contra-modernidade... a ideia de pós-moderno é uma besteira sem tamanho.
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