sábado, 1 de setembro de 2012

(2012/658) Como eram bárbaros os filósofos do XVIII

1. De meu sempre bom de ler, Voltaire: 
Não é assim que coloca a obra de Deus acima de qualquer suspeita. O melhor, sem dúvida, é agir como fizemos em 1707, quando Fatio Duillier e Daudé vieram a nosso país, das montanhas do Dauphiné e das Sévennes, com duzentos ou trezentos profetas, em nome do Senhor. Perguntamo-lhes por que prodígio eles queriam provar sua missão. O Espírito Santo delcarou pela boca deles que estavam prontos para ressuscitar um morto. Permitimo-lhes escolher o morto mais fedorento que pudessem encontrar. Essa peça foi representada na praça pública, na presença dos comissários da rainha Ana, do regimento dos guardas e de uma imensa multidão. O resultado, como se sabe, foi levar os pretensos ressuscitadores para o pelourinho. Talvez, daqui a cem anos, algum novo profeta encontre em seus arquivos que o entusiasta Fatio e o imbecil Daude de fato trouxeram um morto à vida e que foram postos no pelourinho pela perversidade dos descrentes que nunca se rendem às evidências" (Voltaire, Deus e os Homens, p. 138-139).

2. Se ainda tivéssemos um pouco de juízo da cabeça, talvez devêssemos entregar as concessões de TV a esses charlatões dos infernos, depois de provarem, à moda acima, que não são charlatões, e é apenas a língua ferina desse blogueiro a manchar-lhes o poder divino. Para provar o que. eles curariam, em sessão solene, uns dois ou três estropiados. Não digo que, depois, pelourinho - mas que, depois, cadeia, isso digo.

3. Fico a pensar se não deveria ampliar a sessão solene também para os pregadores de salvação. Mas eles têm a favor de si o tempo: é só - e sempre - amanhã e só amanhã que a salvação vem. Assim, a sessão não teria fim nunca, e já duraria dois mil anos, se me faço entender, de modo que não vejo, ainda, jeito de resolver essa outra pantomima, que o sapientíssimo Voltaire julgava necessária para o bom andamento das coisas e a manutenção do status quo.

4. Dirão que pôr no mesmo balaio, isto é, na mesma postagem, a pústula da fé neoconcessionária e neocínica e a plácida espiritualidade antiga e evangélica é criminoso. Talvez seja. Todavia, penso que o embuste neotelevisivo sustenta-se na multidão simples e acrítica, produzida nos viveiros de camarão e mariscos da fé tranquila e submersa e, nem por isso, lúcida.

5. Não farei concessões. Do púlpito de Moody e Spurgeon se engendra o palco dos apóstolos de hoje e de amanhã. Porque, vejam: Pedro não vendeu a magia que tinha - mas Simão imediatamente reconheceu-se nela...

6. Se é minha pretensão que a fé tranquila submerja definitivamente? Não, não é o que estou dizendo - só estou dizendo que ela é como as lojas de armas e as academias de tiro. Há quem se escandalize com Columbine, mas não abra mão do direito constitucional de vender, comprar e usar armas de tiro. A culpa é sempre de Dylan Klebold e Eric Harris - nunca da National Rifle Association...

7. Mas perguntem a Michael Moore...



OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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