1. Nesse momento, dentro de nós, impera a violência. Que não o saiba a consciência é irrelevante. Ela não o sabe por si mesma, mas, disso interessada e investigando a questão, descobre que o corpo que a ela dá emergência constitui o palco primeiro de uma batalha de vida e morte, milhões, bilhões de bactérias ali alojadas, comendo-se mutuamente, devorando-se, bichos vivos a entrar pela boca e pele, trilhões de anti-corpos a derramar sangue para a manutenção do bunker...
2. Não, a guerra não pára...
3. Nem quando a morte derruba o bunker.
4. Cai o corpo, e acorrem a ele, dentro e fora, ainda mais milhões de coisas vivas, a devorá-lo, a roê-lo, a comê-lo com sofreguidão e irreflexão, instinto e destino traçados - a vida é isso, comer, comer, comer, matar, matar, matar, morrer, morrer, morrer.
5. O único jeito de fugir a isso é matar-se: mas matar-se é apenas outra violência - que, de todo modo, não mudará o fato de que, morto, caído, o corpo assim violentado pela consciência tomada de escrúpulos entrega-se, como sempre, ao festim dos vermes e dos besouros...
6. Pode-se, é um recurso, deixar de ver isso como isso é, mistificar a realidade, pôr sobre ela glacê e cerejas... Sim, é verdade. A violência contra a realidade é a única forma de esconder-se a violência da realidade...
7. É por isso que as filosofias "éticas" e "pacifistas" do século XX começam, antes de qualquer outro movimento, a esconder a realidade, a fazê-la desaparecer, a fazê-la pós-moderna...
8. Avestruzes a enfiar a cabeça na cloaca da dissimulação...
9. Crentes.
10. Ou prestidigitadores...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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