domingo, 12 de agosto de 2012

(2012/618) Da oração - essa coisa opaca

1. Tudo bem, eu entendo a oração que se faz intimidade e nada mais. Entendo que o sujeito que acredite que Deus o ouça, que vive dentro dessa fé, que tenha em Deus a figura de uma pessoa com ouvidos de ouvir, ponha-se em diálogos - a rigor, monólogos, mas tudo bem, não vem ao caso (aqui) - com seu "Deus", a rigor, com sua fé, mas não vem ao caso (aqui).

2. Compreendo.

3. Também compreendo o mago que, considerando que "Deus" seja uma energia - ou disponha poder na forma de energia - aperte dois ou três botões, pronuncie oito ou sete palavras de passe, mágicas, carregadas de autoridade, que ele declare, que ele determine, que ele maneje as fontes do poder, e use, a seu critério, a energia divina.

4. Compreendo.

5. O que eu não compreendo é o seguinte: a) o sujeito entende que "Deus" é uma pessoa, isto é, não é uma energia inerte e sem vontade, passiva, pelo contrário, é a fonte de toda atividade e teleologia, quase um ser vivo, vivo, sim, conquanto "Deus", pessoal, personalíssimo, b) acredite que precisa orar e fazer correntes de oração e pedir oração a "Deus e o mundo" e orar de dia e orar de noite e orar de tarde e orar sentado e orar levantado e orar no monte e orar e orar e orar para que "Deus", aquela pessoa, o atenda...

6. Não faz sentido. 

7. Se "Deus" é uma pessoa, ouve a oração, basta uma vez.

8. Se ouve a primeira, e não faz nada, é porque não quer fazer.

9. Se não quer fazer, mas porque o sujeito enche o saco com quinze mil e trezentas e doze orações e meia, ele, então, faz o que não quer fazer, é um manipulável - como o juiz, da parábola.

10. Se quer fazer, mas não faz porque quer que o sujeito se esgoele de tanto pedir, é um sádico.

11. Não faz sentido.

12. Hoje é dia dos pais - invetamos isso. Um pai nem precisa que seu filho lhe peça comida, casa, estudo, diversão, amor - ele dá. Dá e tem prazer em dar. Dá, antes que o filho chegue a pedir...

13. Se o filho, todavia, pede alguma coisa, ele se esforça para dar.

14. Se não pode, olha nos olhos do filho e diz que não pode.

15. Não faz sentido que quem tenha em "Deus" a figura de um pai, pessoal e amoroso acredite que tenha que se esgoelar para ser atendido...

16. É, no mínimo, contraditório.

17. Salvo, claro, se "Deus" é uma energia, e não uma pessoa: nesse caso, quem tem de se esgoelar é o mau mago, fraco nas artimanhas, porque o bom mago, com um estalar de dedos, faz a energia agir a seu favor...

18. São elucubrações minhas. A maioria das pessoas não vai querer gatar tempo pensando nisso. Vai, simplesmente, continuar seus ritos de dezenove horas, ainda que estejam carregados de incoerência.

19. A oração, é, em todos os sentidos, magia. Se é preciso pedir mais do que uma vez, das duas uma, ou há algo de errado com "Deus" ou com os mágicos...




OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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