1. O que será que alguém "citado como o 'principal filósofo protestante ortodoxo dos EUA' pela revista Time" pode dizer que já não tenha sido epistemologicamente aniquilado pelo século XVIII e XIX? O que um adepto do molinismo pode acrescentar ao que já foi sumariamente liquidado - se você se decide não trabalhar mais a partir de dogma e doutrina, mas, exclusivamente, sob a perspectiva científico-humanista? Nada. Absolutamente nada. Ler uma coisa dessas é tomar-se de tédio, raiva ou da sensação terrível de fazer-se de bobo. Perda de tempo.
2. Um de meus maiores amigos traduziu a opus magna de um dos maiores teólogos sistemáticos do século XX. Comentou comigo que, a meio caminho da tarefa, enervava-se, frustrava-se, decepcionava-se, e concluía que, em teologia, nunca se sai do buraco em que se rodopia. Mudam-se os nomes das coisas, as palavras, mas é sempre a mesma coisa: nada de novo no front.
3. Eu juro que eu tento: mas em duas linhas o cara cita Deus como se soubesse do que está falando, como se pudesse fazer uma coisa dessas. Pode, mas só naquele mesmo mundo onde se pode citar, sem vergonha, o Saci e o sétimo anão da Branca de Neve. E o sujeito quer me convencer de que isso é "inteligente"...
4. Deus é assunto para fé e para teologias comprometidas com seu resultado dogmático. Ou para a literatura, claro. Não é tema para quem deseja refletir sobre o mundo com o material de que dispõe no próprio mundo. Não é tema para conhecimento.
5. Deus talvez seja uma realidade - não há como "saber". Pode-se crer, de modo fundamentalista (crer-se em Deus é, sempre, um ato fundamentalista, fideísta e voluntarista - porque, se o sujeito acha que entende de "Deus", demonstra que não sabe nada sobre pensamento [ou sabe, mas dá uma de João-sem-braço]) ou apostar, à moda de Pascal (o que traz a fé para a rena moderna, e é perigoso para a fé que sobrevivesse nos limites da sanidade). Pode-se até jurar que se "sabe" alguma coisa e que se faz, aí, alta Filosofia. Mas qualquer fala sobre ele, seja de crente, teólogo profissional ou filósofo, das duas uma, ou mente para si mesmo, se não se reconhece como fantasia, ou mente aos outros.
6. Nos dois casos, melhor sair de perto.
7. Ler sobre "Deus", hoje, para mim, só nas Escrituras, na literatura e em Ciências da Religião - em cada local, com uma metodologia adequada. Em Teologia, não dá mais. Não a que está aí. Quem sabe?, inventemos uma que possa, de verdade, entrar no terceiro grupo da série?
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
2 comentários:
É uma crise pra mim. Li teu texto sobre resistência e nele foi colocado que há quase totalidade numérica daqueles acessam as escrituras de forma dogmática, confessional, fundamentalista e que a resistência se faz no canto, sozinho ou sozinha, com sua consciência e nada mais...
Mas esse não é um problema exclusivamente teológico. Quando digo "problema", quero me referir a falta de academicismo por parte da quase total maioria. Sem pressupostos claros e estabelicidos antes da conclusão de uma idéia a massa continuará andando no escuro.
E em minha caminhada no meio cristão evangélico, seja ele de que confissão for, o esclarecimento de pressupostos fazem de vc uma espécie de assassinto, estrupador, herege, ateu. O que pode ser verdade ou não, pois assassinar tanta idiotice a meu ver é necessário para o progresso humano.
Não deixam. A tradição até aqui tem sido muito mais forte do que qualquer coisa. Pq se tudo que se diz e se faz está enraizado dentro da maioria de nós não há nada a fazer senão ler, entender, criticar e quase nunca expressar.
Entrar mudo e sair calado. Talvez assim podemos comer livremente numa mesa de almoço com os de nossa própria familia.
É um beco sem saída.
Oi, Osvaldo.
Uma das coisas boas em terminar o curso de Teologia é que agora só leio o que realmente me interessa. No seminário, já lá pelo 5º período, não me interessava mais pelos ortodoxos, eram todos iguais, mas tinha que ler, claro, para se ter uma boa formação teológica tem de se lê-los, saber o que eles falam, como falam, e porque falam o que falam. O problema era quando um professor ortodoxo pedia para se fazer resenha de um autor ortodoxo, ou seja fazer uma crítica de um livro ortodoxo e, depois de fazê-lo, ser chamado de fundamentalista e dogmático por conta de eu tê-lo desconstruído de cima a baixo na minha crítica e de denunciar que não passava, como você diz, de um homem de doutrina (o autor no caso). Ora não era para criticá-lo? Critiquei-o, ora pois. Foi engraçado. Era que o professor era fã do autor que eu ousei desdizer. Ficou uma fera...rsrsrsrs...Mas ganhei um 9,0.
Por esses dias tentei ler um livro de Teologia Fundamental no Google livros. Não consegui passar da primeira página. Me esforcei, mas não consegui. Realmente, não dá mais.
Um abraço!
Robson Guerra
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