1. Não será a primeira vez que um ser humano, no centro de uma circunstancial ignorância, chama a outro de ignorante. Talvez seja um destino inexorável para todos nós. Mas flagrar o próprio "Pedro" - decerto, não foi ele a escrever a carta, compreendam-me - a tratar por ignorante alguém e isso pelo fato de ele julgar que sua ideia sobre o mundo é que está certa - e não estava - é instrutivo.
2. 2 Pd 3,5 diz que os ignorantes ignoram que os céus e a terra foram tirados do meio das águas e no meio das águas permanecem. Quem escreveu isso pensa a partir da cosmogonia semita: no início, os deuses tiraram os céus e a terra de dentro das águas originais. Israelitas e judaítas pensaram assim por séculos. Por volta do século II antes de Cristo, a cultura helênica levou alguns judeus a conceberem a criação a partir do nada, mas essa crença nunca teve força hegemônica, Sabedoria desconhece-na, e o próprio "Pedro" "sabe" que não, que os céus e a terra foram tirados das águas e lá estão, até hoje.
3. Estão, não, "Pedro". A Terra gira no "espaço". E não há água lá em cima. Mas "Pedro" achava que tinha, e chamou a quem não assim pensava de ignorante. E era ele o tal.
4. Agora há pouco li um blog em que se desanca o deísmo. O blog se chama "Teologia crítica", e eu esperava algo mais do que o que encontrei.
5. O texto do blog se chama "A Falácia do Racionalismo Deísta". Começa definindo brevemente o deísmo: "DEUS pode até existir, mas não há nenhuma possibilidade dEle se relacionar com a criação! Esta é a tese central do pensamento deista". E, então, citando Charles Hodge (!), propõe-se a "provar" a falácia do sistema teológico inglês.
6. Tenho constrangimento de citar os argumentos, mas vamos lá. Primeiro, a natureza moral humana "prova" a verdade do teísmo: Deus se revela em nossa consciência. Segundo: a razão prova que Deus governa as sua criaturas. Terceiro: a universalidade da crença em Deus. Quarto: a Bíblia.
7. Deus do céu. Eu acho que alguém pode até acreditar nisso que escreveu. Mas, daí, a tratar outro sistema, até mais coerente do que o seu, de "falácia", aí já é demais. Com base em proposições de catequese, o "teólogo crítico" pretende tratar como falsa outra catequese.
8. Está-se é a bilhões de anos luz da crítica, aí: está-se no coração da doutrina e da desrazão que ela promove. E sempre se julgando a serviço da verdade. Como aquele velho "Pedro" de 2 Pd 3,5 a distribuir bulas de ignorância ao espelho...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
3 comentários:
Os argumentos realmente são de amargar.
Diante da pergunta: por que você crê em Deus, surge um argumento muito comum: "porque a Bíblia diz que Ele existe". O cético retruca: "ora, mas quem garante que a Bíblia diz a verdade?". Resposta: "Deus, seu autor, não mente".
E tem muita gente que não percebe a falha lógica desse argumento.
Mas quem é(são) o(s) (A)autor(es) da B(b)íblia?
Jones, é como na pegadinha "Você viu o elefante escondido na plantação de morangos? Não? Viu como ele se esconde bem..."
Robson Guerra
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