Nuvole Bianche, de Ludovico Einaudi |
1. Você imagina uma melodia. Deixa-se invadir por ela. Vai ao piano e a executa - ela é exatamente como você a imaginava. E é linda.
2. Você chama sua esposa para ouvir você tocar. Ela acha belíssima. Ela gostaria de ensiná-la aos alunos da classe de música, na quarta-feira. Talvez você pudesse escrever a partitura...
3. Você a escreve. Você sabe todos os sinais, todas as claves, os índicativos de velocidade, de pausa, de timbre. Você sabe fazer a coisa. E faz.
4. Na quarta-feira, ela entrega a partitura para seu assistente. Ele a executa, primorosamente, ao piano. É, sem tirar nem pôr, a mesma belíssima composição executada que você ouvira de seu marido...
5. Não, senhores, a realidade não é fruto de nossa imaginação. Acreditem - tem gente que acha que é. Tem gente que escreve que é. Tem gente que acha que tudo não passa de coisas que acontecem nas nossas cabeças e que trocamos por meio do que eles chamam de intersubjetividade...
6. Mas não sabem explicar essa magia, de o som nascer em sua cabeça, ir para o papel, do papel para outras mãos, e ele ser o mesmo...
7. É o ar. É o som. É o tímpano. É a nota. É a pauta. É a partitura pronta. Do pensamento, que interpreta o ar controlado, até o papel, que os olhos lerão.
8. Isso é realidade pura. É código universal, que lê o ar no tímpano, o dedo na tecla, movimento, ar, som...
9. Mais rigoroso do que isso, só a classificação científica para os animais: Homo sapiens.
10. Não, o código da música ainda é mais perfeito. Você não precisa saber o que são nuvens brancas para tocar Nuvole Bianche...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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