quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

(2012/206) Do "é" e do "deve ser" - se não entendermos isso, não entenderemos mais anda


1. "Fato" e "gosto", "evento" e "juízo" - "é" e "deve ser". Uma coisa é a descrição, ou tentativa de descrição, das coisas tais quais elas se deram: havia homens na América, quando aqui chegaram os espanhóis e os portugueses? Essa pergunta não é do tipo "gosto", "juízo" ou "tem de ser/deve ser assim" - é uma pergunta do tipo "fato", "evento", do tipo "é assim que as coisas são".

2. Os brancos deviam ter dizimado os ameríndios? Essa é uma pergunta do tipo "gosto", do tipo "juízo", do tipo "é assim que as coisas têm de ser, que as coisas devem ser". Não se trata de um fato. A resposta depende da ética e da moral a que o sujeito se vincule, e não há nenhuma "verdade" a priori que nos faça determinar a resposta: trata-se de uma decisão aqui e agora.

3. É preciso que saibamos: a) se estamos discutindo sobre fatos ou sobre gostos, e b) é preciso que saibamos que, quando discutimos fatos, os fatos devem ser os soberanos, mas que, quando discutimos gosto, não há que ceder aos argumentos dos outros.

4. Discussão sobre fatos impõem a nós que nos coloquemos em disposição de ânimo para ceder - já que nossas ideias sobre os fatos podem estar totalmente erradas.

5. Mas eu posso complicar um pouco a discussão: posso dizer que é um fato que há pessoas que preferem discutir as coisas a partir de seu gosto, como se as coisas dependessem de seu desejo, como se a verdade fosse um desejo (Todorov). Isso é um fato: há pessoas que trocaram o real pelo seu desejo de realidade. Bem, eu detesto isso - mas isso já é um gosto meu...

6. A pedra ou está lá ou não está. Isso você não pode decidir - só pode ir lá e atestar por si mesmo. Mas você pode decidir se gosta dela ou não - mas isso não vai fazer a menor diferença para a existência ou não da pedra...



OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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