sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

(2012/129) Da crítica e da apologética - o que exatamente me afasta da teologia clássica



1. Há uma única coisa que eu não posso suportar na Teologia clássica - seu costume de dizer que as coisas são de um jeito e você ter que aceitar que é assim mesmo que as coisas são. Chame-se a isso de dogma, doutrina, credo. O nome pouco importa - é a atitude epistemológica e pedagógica que conta: é assim! Amém!

2. Essa atitude me aborrece. Seja quando é ensaiada pelo clero - a imposição de verdades é o modus operandi do clero -, seja quando é ensaiada pelo "fiel". O Dogma diz: Xis, e o fiel responde: Amém! Isso me dá calafrios.

3. Por isso não gosto de apologética. Acho a apologética um crime de lesa inteligência. Em termos psicológicos, self deception.

4. Gosto da atitude de espírito que questiona: mas como você me diz que é assim?, como você pode saber que é assim?, como eu posso saber que é assim? É verdade, uma coisa que não pode ser provada não significa que não exista - mas não significa, da mesma forma, que exita, de modo que usar a fé, aí, não muda em nada o fato concreto de que o conteúdo do que se crê encontra-se indisponível, de modo que essa fé não passa de desejo de verdade. O desejo de verdade, todavia, não constitui a verdade...

5. A atitude coercitiva, heterônoma, não está apenas nas religiões clássicas: está nas sociedades herméticas e iniciáticas, nos partidos políticos de extrema direita e de extrema esquerda, atuando em tom degradê sobre todo o espectro, de lá e de cá. 

6. Mas a religião é seu ambiente característico: bento que bento é o frade, frade, na boca do forno, forno, tudo que seu meste mandar, faremos todos, e se não fizer, levaremos um bolo...

7. Para mim, a religião e a teologia se salvarão quando - e se - assumirem também a atitude da crítica como natural e desejável.

8. Enquanto isso, por mais que resistam, os fiéis estão presos à repetição dos conteúdos da catequese - mesmo quando se está em pleno doutorado!



OSVALDO LUIZ RIBEIRO

Um comentário:

Cleinton disse...

caro osvaldo.
aprendi coisas novas com o passar dos anos. uma delas pode até parecer banal, mas foi uma grande descoberta para mim; aprendi que ser de esquerda não é sinônimo de ser progressista e que ser de direita não significa sinal de retrocesso. aprendi com um gênio chamado césar guimarães, meu professor no doutorado - que não tem documentos, pois é doutor notório saber! - que existem esquerdistas retrógrados e direitistas progressistas. outra coisa nova que aprendi é que genial é quem consegue viver com sabedoria as limitações humanas. genial é quem faz a transformação acontecer do lugar onde está. genial é buscar transformar o PT, por exemplo, sem ter de sair para outro partido, dizendo-se frustrado com os erros humanos cometidos (os humanos sempre errarão, ora bolas!). genial é conseguir fazer a apologética com crítica, entendendo a força de um evangelho que, mesmo nas mãos de simples pregadores de "hermenêutica torta", fazem a revolução que vemos no "Santa Cruz", do João Moreira Sales. aprendi que, apesar da canalhice marcante de muitas das decisões, tem muita gente boa na direita. aprendi que, apesar da ideologia que parece sempre ter razão, e se dizer sempre em favor dos menos favorecidos, tem muita gente má na esquerda. aprendi a olhar para pessoas como você, em pleno momento de gritos de "herege! herege! herege!", e falar: "aprendamos com ele, pois o cara é maravilhoso e mais crente do que a maioria dos que o atacam!". ao mesmo tempo, aprendi a chamar de canalhas - e sempre na cara! - a muitos que eram tidos como santos pela maioria. perdi dinheiro, posição e amigos por isso, mas nunca me arrependi. eu sou um pregador do evangelho, osvaldo. poucas vezes você verá um pregador mais apaixonado do que eu num púlpito. eu amo isso incondicionalmente. ao mesmo tempo, no entanto, aprendi a fazer a crítica da crítica. na igreja, me dizem; "mas como é que o pastor consegue lidar com Marx e com o púlpito ao mesmo tempo?!". na academia, dizem; "mas como é que você consegue ser o que é academicamente e escrever isso tudo, sendo pastor, atrelado a uma igreja evangélica?!". no final das contas, eu apenas dou de ombros e continuo a vida. mas, no fundo, no fundo, osvaldo, eu gostaria de ter coragem para dizer como o nietzsche; "vai ver é porque eu sou bom, pô!". rsrsrs

ps: meu tempo curto e corrido me impede de lhe escrever tão cedo a resposta que prometi. para não ficar na promessa mentirosa, então, ficam apenas as perguntas que já fiz. acho que elas já são suficientes e bem melhores do que aquilo que eu ainda poderia acrescentar. pelo menos por enquanto. há braços...

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