1. Somos todos, você e eu, cães a ganir na estrada. "Você", aí, indica todo aquele que, da mesma forma que "eu", escreve e publica na Rede ou em papel.
2. Não somos leões. Não, não somos. Não nos levantamos, preguiçosos, lambemos os beiços e saltamos sobre a zebra, nhac!
3. Somos cães, a ladrar, a ganir pelas ruas. A ganir, fundamentalmente...
4. Falta-nos poder. Por isso - e só por isso - escrevemos. Quem tem poder não precisa disso.
5. E, atenção!: onde quer que se precise escrever, aí já começa o poder a desmoronar, lentamente, letra a letra...
6. O verdadeiro poder, "divino", é aquele em que a divindade deseja e faz, essa hendíade indissociável. Quando tem de escrever, quando tem de "convencer", começa aí a sua morte...
7. Nos dez mandamentos, nos seus "porquês", Deus começou, lentamente, seu ocaso.
8. Quanto a nós, açulamos a chama de nosso fogo frio nas letras mortas da Internet... Fuuuu! Fuuu! Fuu!
9. Os apressados dirão que a Internet tem poder. Sob outra semântica, vá lá: quanto ao que estou aqui a chamar de poder, não. Nem você, nem eu, nem todos os seguintes da rede...
10. Talvez a escrita não seja mais do que contra-poder: talvez aí se flagre a sua essência - corroer, lentamente, pouco a pouco, as perobas, os paus-ferros, os ipês, os carvalhos, como carunchos, como brocas, como cupins. Nós, os despoderados, carunchando, carcomendo, infiltrando-nos...
11. Aí está: somos cães a ladrar na noite, subversivos.
12. É, no dia em que o poder beijar nossa face, vai saber!, deixamos de escrever e chutamos os poetas, como ensinou-nos Platão.
12. É, no dia em que o poder beijar nossa face, vai saber!, deixamos de escrever e chutamos os poetas, como ensinou-nos Platão.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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