sexta-feira, 3 de junho de 2011

(2011/331) Losurdo, Nietzsche e a "hermenêutica da inocência"


1. A recepção de Nietzsche no século XX, a sua higienização, a sua volatização, digamos assim, a transmutação dos seus valores, para o dizermos por meio de palavras que empregou, mas não a par com seu sentido, é uma página representativa do horror que tem esse século à história. A oração dos hermeneutas da inocência, dos prestidigitadores da metáfora, intérpretes - ? - de Nietzsche, todas as noites, joelhos dobrados, mãos postas, resume-se a: Deus, livra-nos de um historiador...

2. É verdade que Deus também não gosta de historiadores - não foi seu espírito aquele que pôs a nu os mitos bíblicos?, a própria Teologia bíblica não se transformou, blasfemos!, em História da Religião de Israel, despida de sua magia e metafísica? Deus bem gostaria de atender a oração desses senhores. Mas como? Até Gondim já percebeu que não se pode impunemente argumentar que alguém esteja no controle! Quanto mais num mundo de metáforas! De modo que, puf!, como num passe de mágica, dá-se à luz a um historiador - Domenico Losurdo...

3. Mais do que pôr a nu Nietzsche - pôs a nu o Colegiado da Metáfora, a Egrégia Confraria da Hermenêutica da Inocência, aqueles que - insistentemente - repetiam para nós, sete vezes ao dia, que não há fatos, só interpretação de fatos, ao mesmo tempo em que redigiam suas sutilíssimas metáforas, escondendo as vergonhas por meio de estratégicas reticências entre parêntesis, bem como recorrendo ao artifício da tradução sutil da inocência higiênica.

4. Acabou. Doravante, ficará claro se temos filósofos ou torcedores de times de segunda categoria - e com juiz comprado! Não há mais a mínima possíbilidade de referi-se ao meu sempre tão adorável filósofo como a alguém inocente, metafórico, puro. Não! É bem filho de seu tempo - mas é, de longe, o melhor da espécie!

5. Sim, sim - o século XX europeu tem muito a esconder, tem muitas razões para odiar a história, para querer vê-la transformada em metáfora. Não é à toa que fico alerta todas as vezes que a palavra soa aos meus ouvidos. E ultimamente ela anda na moda por essas terras brasileiras, também no formato de uma saída teológica...



OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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