quinta-feira, 10 de março de 2011

(2011/157) Do eu e do meio - do sujeito e da estrutura


1. É curioso como é difícil para a maioria das pessoas, incluídas aí as "cultas", mover-se entre as teorias que põem o sujeito no centro e as teorias que põem as estruturas no centro. Mesmo quando se diz que se está levando em consideração as duas facetas da moeda, você percebe como a tendência é sempre isolar uma e reduzir o processo à outra.

2. Eu acho que não se pode anular nem o sujeito nem o meio, e, todavia, não se pode chegar a uma terceira via que faça do sujeito um não-sujeito e do meio um não-meio: na prática, faz-se do meio um "deus" e do sujeito, um dente de engrenagem... Todavia, o sujeito não pode ser descartado enquanto e na forma de sujeito, e o meio não pode ser descartado enquanto meio e na forma de meio.

3. Disso derivam algumas inferências. Intencionalidade só há no sujeito. Todavia, ele é meio-vinculado. O sujeito emerge com vistas a um meio, e é sempre aí que ele se expressa. Já o meio não tem outra funcionalidade epistemológica que entrar na grade de intervenção ecossistêmica do sujeito, agindo como catalisador das ações intencionais desse sujeito. A sua passividade topográfica converte-se em pseudo-atividade geográfica - a resistência do meio opera reações intencionais no sujeito, de modo que estabelece aí uma interação crítica e dinâmica - com a única reação intencional recaindo sobre as reações do sujeito diante das resistências não-intencionais do meio.

4. Há muita "saída", muita "harmonização" que, a rigor, converte-se em falsa saída, falsa harmonização, porque dissolve o sujeito e diviniza o meio. Usa o nome "sujeito", mas o dissolve - é bem um Calvinismo disfarçado, que, eventualmente, nem sabe de si, nem tem idéia de que se expressa na forma de Calvinismo secularizado - porque, aí, seja no Calvinismo, seja nos modelos de "harmonia" entre sujeito e estrutura que, na prática, matam o sujeito, o homem, o sujeito, é apenas uma peça, um jogo, um não-homem...

5. Ora, como será a relação concreta com os outros por parte de quem tenha dos sujeitos uma idéia assim - "objetiva", coisificante, subjetivo-anulante? Somos o que - para tais pessoas? Ou, no fundo, tudo se resume a um processo de auto-negação, de fundo bem freudiano?



OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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