1. Digamos que um rapaz de seus 22 anos ingresse na Faculdade, para estudar Biologia. No meio do curso, descobre que estavam ensinando a ele abiogênese como explicação para a manutenção da vida - e isso ainda que ele mesmo casado fosse e soubesse como estava a preparar a descendência bíblico-orientada...
2. Que faria nosso biólogo? Abandonaria a Biologia, porque descobriu que lhe contaram apenas um pedaço da história, que esqueceran de Pasteur, de Darwin? Ou, antes, cioso de sua vocação, aprofundaria até o limite a calha de seu rio? Ia ele mesmo lá atrás, buscar as fontes? Onde quer que estejas, cava profundamente - embaixo fica a fonte...
3. Comigo foi assim. A Teologia não é o que eu digo que ela é por um beneplácito de minha vontade, mercê do que eu fiz com ela. Ensinaram-me uma Teologia pela metade, por um terço, um pedaço anacrônico do passado, goela abaixo, racionalizadamente - mas eu fui lá, e descobri, coisa que qualquer um pode ir e ver, com os próprios olhos: não se trata de nada esotérico nem iniciático...
4. Pelo menos se faz isso por meio de livros. E você lê. Mesmo os heréticos. E os li. E descobri que me tratavam como um bobo, que selecionavam o que eu devia aprender: esconderam-me todos os séculos XVII, XVIII e XIX, e, quando os nomeavam, era para os lançar ou no inferno ou na privada. Não?
5. O que eu fiz? Estudei por conta própria - toda a Teologia do XIX e do XX, mas, ao mesmo tempo, Epistemologia, Hermenêutica e as Ciências Humanas, além de alguma coisa das Cognitivas - meu sonho de aprofundamento.
6. Descobri que o que me ensinavam como Teologia estava não apenas ultrapassdado, mas não fazia o menor sentido. O que eu fazia? Jogava fora a Teologia - minha vocação? Ou a reconstruía, nas bases que julgo adequadas para nosso tempo? - isto é, o pós-XIX?
7. Não posso renegar a Teologia, culpando-a pelo que os teólogos-docentes fizeram com ela e comigo. Meu dever, como teólogo, é fazê-la avançar, tentar dar a ela lugar e vez entre as Ciências - porque ela não tem lugar entre elas, se se mantiver com sua autocompreensão clássica.
8. Meus interlocutores, que posso fazer?, são os teólogos, ainda que não queiram ouvir, não possam ouvir. No fundo, fico sem interlocutor. É um problema de nadar contra a corrente, de fazer história contra a correnteza. Mas é minha vocação. Esse sou eu. Eventualmente errado e burro - não por falta de autocrítica, acredite (minha neurose é a autocrítica!), mas por uma substancial burrice incurável, vai ver! Mas esse sou eu. Teólogo. Mas de um tipo novo. Ou nu, porque duvido que não haja outros por aí - escondidos, todavia...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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